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sexta-feira, 16 de junho de 2017

O CAMPONÊS E A SERPENTE - Por Nicéas Romeo Zanchett




               Um velho camponês muito bondoso andava pela fazenda quando viu uma fumaça vindo da floresta. Montado em seu cavalo entrou pelo bosque e foi até aquele local para ver de perto o que estava acontecendo. Viu que ali havia uma fogueira acesa e junto a ela uma grande serpente que tentava escapar do fogo. As chamas estavam aumentando e cercando a serpente que tentava fugir da morte certa. Quando ela viu aquele homem arriscou-se a pedir ajuda. 
               - Meu caro senhor, estou desesperada. Preciso de ajuda se não vou morrer.
               - Calma senhora serpente. Não se preocupe que irei ajudá-la. Disse-lhe o camponês. 
               As serpentes tem fama de serem animais perigosos e traiçoeiros por seu veneno mortal. No folclore popular elas passaram a ser consideradas inimigas de todos os outros animais. Mas na verdade elas tem grande importância no equilíbrio da natureza. Se não fosse assim não existiriam. 
               "Quem semeia boa ações sempre colhe bons resultados", pensou o bondoso camponês. Em seguida pegou um saco que trazia consigo e amarrando-o a uma vara comprida estendeu-a por cima das chamas  para a serpente. Esta, já sentindo-se aliviada, pulou imediatamente para dentro do saco. 
             Após tê-la salvo da morte, o camponês já se preparava para partir e então disse à serpente: - Agora pode continuar seu caminho e cumprir seu destino junto a toda essa natureza. Pensou consigo mesmo que, apos este episódio, a serpente teria alguma gratidão para com os homens.
               Estava saindo quando a serpente o interpelou: - Espera um pouco senhor bom feitor. Eu preciso cumprir meu destino antes que se vá.
               - E que destino é esse de que falas? 
               - Senhor, vou inocular meu veneno em seu cavalo e no senhor. 
               - Mas isto é ingratidão, respondeu-lhe o camponês. 
               - Ora essa! pagar boas ações com más ações e benefícios com ingratidão é o que o senhor e todos os outros humanos fazem todos os dias. 
               - Dizes isso, mas não podes provar; é uma afirmação caluniosa, respondeu-lhe o camponês. Se conseguir provar aceitarei seu castigo e pagarei pelas culpas de meus semelhantes. 
              - Eu aceito o desafio e provarei o que estou afirmando. Vamos ouvir o que diz aquela vaca leiteira que está li pastando. E juntos foram até a vaca e pediram sua opinião.
             A vaca então lhes falou: - Eu tenho uma triste experiência; sempre fui explorada pelo meu dono; tenho sido-lhe útil fornecendo-lhe leite, manteiga, queijo; mas agora que estou velha e que já não consigo ser como antes, ele me pôs para pastar e engordar, pois vai me mandar para o açougueiro que irá matar-me e assim poderá comer minha carne. Isso certamente é que se chama de pagar o bem com o mal. 
                Diante de tal declaração a serpente, tomando a palavra disse:  
                - Que me dizes agora bondoso camponês? Devo seguir seu costume e tratá-lo como devo. 
                O camponês, bastante intrigado com a resposta da vaca, pensou rapidamente e respondeu: 
                - Isto só pode ser um caso isolado, vamos buscar outra resposta. 
                - Com todo o gosto, respondeu a serpente; interroguemos esta árvore que aqui está. 
                A árvore que havia testemunhado toda aquela discussão, deu seu parecer sem exitar: 
                - Há muito tempo que cheguei à conclusão que os homens sempre pagam boas ações com más ações. Eu dou abrigo a todos os viajantes que passam por aqui; dou-lhes sombra, deliciosos frutos para comer e um ótimo líquido para beber; e, contudo esquecem disso e cortam meus galhos para fazer cabos de ferramentas e até lenha para suas fogueiras; sei também que meu destino é o mesmo de outras irmãs que tiveram seu corpo fatiado em tábuas na serraria. Acho que isto é a mais covarde das formas de pagar o bem com o mal. 
                Naquele momento passava por ali um velho cão. A serpente então dirigiu-se  a ao animal andarilho e pediu: 
                - Senhor cão, gostaríamos de ouvir a sua história de vida. 
                Um pouco espantado com tal pedido ele assim falou:
              - Minha história de vida?  Acho que não vai gostar, pois é muito triste. E continuou: Passei toda a minha vida ao lado de um fazendeiro. Todos os dias saíamos para caçar e eu o ajudava sempre, muitas vezes correndo grandes riscos. Sempre que ele estava por perto eu mostrava minha alegria abanando minha cauda. À noite ficava de plantão, tomando conta da casa, para que ele pudesse descansar sem perigo. Agora que estou velho ele me mandou ir embora e cuidar da minha vida. Neste momento estou indo para a floresta onde pretendo morrer em paz. 
                A serpente então perguntou ao camponês se ele estava satisfeito ou queria outra prova.
                 Diante de tantas provas o camponês estava totalmente confuso e sem argumentos. Mesmo assim, esperando escapar ao perigo de ser picado, disse o seguinte: 
                 - Peço mais um favor e prometo que será o último: Quero ser julgado pelo primeiro animal que encontrarmos. Gosto muito da minha vida e não quero perdê-la por ter-lhe feito um bem. 
               Neste momento eis que surge uma velha raposa que costumava andar por ali. A serpente então deteve-a para por fim à discussão. 
        A raposa quis saber qual o assunto que os incomodava tanto, ao que o camponês prontamente respondeu: 
                - Eu salvei esta serpente da morte na fogueira e em retribuição ela quer picar a mim e ao meu cavalo; e ainda diz que é a forma certa de retribuir o bem que lhe fiz. 
           - Se ela quer proceder contigo como procedes com os outros é melhor não pedir nada extraordinário, respondeu a raposa; mas para que eu cabalmente possa servir de juiz, diga-me qual o serviço que lhe fizestes. 
                Pensando que esta seria a oportunidade de defender-se, o camponês contou-lhe tudo o que se passara; disse que tinha salvo a serpente da morte e agora ela estava querendo vingança. 
               - O que! disse a raposa com uma gargalhada;    Queres então que eu acredite que uma serpente tão grande coube nesse saco tão pequeno? Isto é impossível! 
               Tanto o camponês como a própria serpente lhe afirmaram que fora exatamente assim.; mas a raposa não quis acreditar. Por fim disse: 
                - Não adianta insistir que nenhuma palavra irá me convencer; mas irei acreditar se a serpente entrar novamente no saco e então darei minha opinião. 
                 - Com muito goto, respondeu a serpente, e em seguida entrou no saco.
                 Então a raposa disse ao camponês: 
                 - Agora tens em teu poder a vida do teu inimigo; e a mim parece que não te custará muito decidir o que deves fazer a um monstro tão ingrato. 
                 O viajante então, atando a boca do saco, passou a bater com uma vara até esmigalhar a serpente. 
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MORAL DA HISTÓRIA: É preciso ter prudência e não confiar nas boas intenções de um inimigo.
Nicéas Romeo Zanchett

domingo, 11 de junho de 2017

A HISTÓRIA DE SANSÃO E DALILA - Por Nicéas Romeo Zanchett


Adaptação de Nicéas Romeo Zanchett 
A RIXA DE SANSÃO COM O POVO FILISTEUS
                      Por muito tempo os hebreus tiveram que viver sem um rei. Em seu lugar haviam homens sábios e valentes com poderes de juízes que os guiavam na obediência das leis  e os defendiam dos seus inimigos.  Um desse juízes se chamava Sansão que era famoso por sua extraordinária força com a qual defendeu os hebreus contra os filisteus, considerados como maus e cruéis. 
                    Sansão era tão forte que em certa ocasião enfrentou um leão agarrando-o pelas mandíbulas e estrangulando-o como se fosse um cordeirinho. 
                    Seu ódio pelos filisteus não era em vão. Em certa ocasião os cruéis filisteus conseguiram prendê-lo e manietá-lo. Sem reagir, Sansão deixou que fizessem tudo o que quiseram. Mas, depois de bem amarrado, fez um grande esforço e arrebentou todas as correntes como se fosse fios de linha; em seguida apossou-se de uma mandíbula de burro e usando-a como se fosse uma espada matou  mais de dois  mil filisteus. 
                   Em outra ocasião os filisteus preparam-lhe uma armadilha. Era noite e Sansão estava a sós e numa cidade inimiga. Os filisteus o amarraram na porta da cidade e  já contavam alegremente o sucesso de seu feito, certos de que não conseguiria escapar. 
                   Aquela cidade, como tantas outras daquela época, era bem protegida por uma enorme e alta porta, tão alta como a torre de um castelo. Mas nada disso adiantou. Sansão apoiou seu ombro na porta e a arrancou com fechadura de bronze e tudo; em seguida saiu correndo pelos campos dirigindo-se para uma montanha como se estivesse carregando uma cesta de frutas. 
DALILA E SUA TRAIÇÃO 
                 Sansão conheceu uma mulher chamada Dalila e encantou-se por ela. Sua intenção era honesta, mas não sabia que aquela mulher era traiçoeira e perversa. Para enganá-lo, na primeira oportunidade que teve aproximou-se de Sansão fingindo ser sua sincera amiga. Não sabia ele que aquela mulher havia acertado com seus inimigos que iria aniquilá-lo pela quantia de mil moedas. 
                 Depois de se mostrar muito carinhosa, Dalila perguntou-lhe qual o segredo de toda aquela força que possuía dizendo o seguinte: - Sansão, eu o admiro muito por sua força, pois não existe nenhum laço que seja capaz de prendê-lo; você é tão forte que se desfaz de qualquer amarra como se fosse um simples fio de seda; por muito amá-lo gostaria de saber se existe alguma forma de resistência que poderia detê-lo. 

                  Sansão então contou-lhe a seguinte história: - Só existe uma forma de prender-me: Eu não conseguiria escapar se fosse amarrado com sete cordas feitas de pele de boi ainda fresca e úmida; isso me transformaria num homem tão fraco como qualquer um. 
                 Seus inimigos então providenciaram as sete cordas e o amarraram, mas bastou uma pequena sacudidela para que as cordas se rompessem em pedaços. 
                 Mas Dalila, traiçoeira e persistente, tornou a perguntar-lhe como seria possível subjugá-lo. 
                 Sansão então já sabendo que trava-se de uma armadilha  disse-lhe: -Acredito que seria necessário nove cordas em vez de sete. 
                 Voltaram a amarrá-lo e desta vez com nove cordas, mas foi só um pequeno esforço e elas arrebentaram-se em pedacinhos. 
                 Dalila, como sempre muito ardilosa deixou passar algum tempo. Sempre carinhosa com Sansão ela se mostrava a mais fiel das amigas. 
                 O tempo passou e um dia, sem querer,  Sansão deixou escapar seu segredo...
                 - Ora Dalila, minha força está nos meus longos cabelos  que nunca foram cortados.
               Dalila não disse nada. Esperou que ele adormecesse, pegou uma tesoura cortou todo o seu cabelo o mais rente que pode. 
               Ao despertar, percebeu que estava careca; seus cabelos haviam sido cortados e ele perdera sua força. 
               Os filisteus não perderam tempo, trancaram-no num cárcere e lhe arrancaram os olhos. Em seguida levaram-no para um pátio onde havia a roda dos presos. Ali o pobre e infeliz Sansão passava os dias dando voltas como se fosse um cavalo cego! 
                Com isso os filisteus sentiram-se vitoriosos e esqueceram que os cabelos voltariam a crescer e com eles a força de Sansão. Quanto mais seus cabelos cresciam mais aumentava sua força. 
A VINGANÇA FINAL DE SANSÃO
                Chegou o dia em que os filisteus celebrariam seus feitos numa grande festa. Depois de muito terem comido e bebido trouxeram o cego Sansão para para divertirem-se, fazendo dele o alvo de suas zombarias.
                No palácio havia mais de três mil pessoas, contando mulheres e crianças. Todos se divertiam e riam do pobre prisioneiro e de sua desgraça por não poder mais enxergar. Como estava sego Sansão era conduzido pela mão por um pobre garoto filho de escavo. 
                O garoto que conduzia Sansão era seu admirador, mas nada falava para não ter a mesma sorte. Sabendo disso Sansão lhe disse: - Meu amigo, conduza-me até o meio das duas colunas da grande sala para que eu possa descansar um pouco apoiado nelas. Você poderá deixar-me ali e ir brincar com seus amiguinhos que todos estão bêbados e nem irão perceber. Aquelas duas colunas apoiavam a grande abóboda do palácio onde acontecia a festa.

                 Feito isso, Sansão esperou que o garoto se retirasse em em seguida apoiou-se nas duas colunas, concentrou-se e invocou ao seu Deus que lhe restituísse todas as sua forças. Abraçou, então,  as duas colunas ao mesmo tempo e gritou aqui morrerei com todos os filisteus.  Em seguida derrubou as colunas com a abóboda sobre si e seus inimigos filisteus. Ali ficou sepultado para sempre com seus inimigos. 
Nicéas Romeo Zanchett 




quarta-feira, 1 de março de 2017

A GATA BORRALHEIRA - Adaptação de Nicéas Romeo Zanchett


UM POUCO DE HISTÓRIA
A mais antiga história da Gata Borralheira tem origem na China, cerca de 860 anos a.C.
Muitos foram os autores de sucesso que escreveram sua versão sobre a Gata Borralheira que virou Princesa. 
Em 1697 o escritor francês Chales Perrault, inspirado num conto italiano (La gatta cenerentola), escreveu a versão mais conhecida; depois dele os Irmãos Grimm também escreveram uma história semelhante. Como Cinderela esta pequena história tornou-se o um dos contos mais populares da humanidade.  Nesta a Cinderela sabe palavras mágicas, que as usa no imperativo, e assim consegue fazer seu pedido  se transformar em realidade. O final da história acontece com as irmãs malvadas ficando segas depois que  pombos lhes furam os olhos. 
A palavra borralheira é dada ao um local sujo, local onde se guardam lixo, cinzas e restos do forno de lenhas.

Analisando a história pelo olhar da psicologia podemos dizer que ela traduz o anseio natural de toda a jovem que quer ser reconhecida como especial e superior às demais. Este lado psicológico tem sido muito usado pelo cinema não apenas infantil, mas também aqueles que contam histórias de amor onde a mulher simples, humilde acaba sendo a preferida e amada.

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               Em tempos muito remotos a esposa de um homem muito rico estava à beira da morte. Preocupada com o futuro da filha chamou-a até seu leito e lhe disse: 
               - Querida filha, estou prestes a me despedir para ir ao encontro de Deus. Antes porém quero lhe dar o melhor conselho que imagino existir; - seja sempre boa e piedora que Deus a ajudará; lá do céu sempre a acompanharei e pedirei por você. 
               Em seguida morreu. 
               Boa e piedosa, a menina ia todos os dias ao túmulo da mãe.
               Passado um ano, seu pai apaixonou-se por uma linda senhora e casou-se novamente.
               A nova esposa levou consigo as duas filhas que eram muito lindas de rosto e corpo, mas feias de alma. Mal chegaram à nova casa começaram a atormentar a boa e piedosa enteada de sua mãe.
              - Você é uma pessoa horrorosa e nós não a queremos conosco; vá para a cozinha ajudar a criada, disseram elas.
              Em seguida foram ao seu quarto, abriram seu armário e se apossaram dos lindos vestidos que havia ganho de seus pais. Depois vestiram-na com o que havia de pior e também puseram-lhe um velho tamanco e mandaram que fosse para a cozinha trabalhar.
              A piedosa menina levantava-se muito cedo para lavar cozer e cozinhar. 
              As irmãs faziam-lhe todo o mal que podiam, sempre com as mais humilhantes palavras.
              Como havia sido expulsa de seu quarto, passava as noites sentada ao pé do fogão, pois nem cama tinha para deitar e descansar.  Como estava sempre suja de cinza puseram-lhe o nome de Gata borralheiro. 
              Certo dia seu pai foi a uma feira, mas antes de sair perguntou às suas enteadas: 
              - O que querem que lhes traga de presente? 
              - Os vestidos mais belos que encontrar, disse uma; 
              - As mais lindas e ricas jóias, disse a outra. 
              - E você minha querida filha, que queres que lhe traga? 
              - Paizinho, traze-me a primeira flor que encontrar no seu caminho de volta, respondeu-lhe. 
              O senhor foi então à feira e comprou lindas jóias e vestidos para as duas enteadas; na volta, ao passar por um bosque, lembrou-se do pedido da filha e colheu um raminho de rosa.
              Ao chegar em casa deu às enteadas o que haviam pedido e entregou o ramo de rosa para sua legítima filha. 
              Com aquele raminho nas mãos ela foi até o cemitério e enterrou-o junto ao túmulo de sua mãe. Tanto chorou que suas lágrimas irrigavam diariamente aquele raminho que logo se transformou numa bela roseira. 
              A Gata borralheira, sempre que podia, ia ver e admirar sua roseira que de tão grande se tornara uma verdadeira árvore. Notou que sempre que ela chegava vinha também um pequeno passarinho branco que lhe dava tudo o que ela pedia. 
              O rei daquele lugar mandou avisar e convidar a todos para a grande festa que daria a fim de que seu filho tivesse a oportunidade de escolher a mais bela das moças de seu reinado para ser sua esposa. 
              Quando as duas irmãs avarentas souberam da notícia ficaram enlouquecidas de felicidade e esperança. Chamaram a Gata borralheira e lhe disseram: 
              - Limpe muito bem nossos sapatos e penteie nossos cabelos que iremos a uma festa no palácio do rei. 
              Ouvindo isso a Gata borralheira começou a chorar e pediu à madrasta que a levasse também.
              - Está cheia de cinzas e poeira, disse-lhe a madrasta. Além disso como poderá dançar  se nem tem um par de sapatos? 
               Mas como ela insistia, a madrasta deu-lhe uma tarefa. Em seguida despejou um prato de lentilhas nas cinzas da lareira,  mandou que juntasse todas, uma a uma, separando as boas da ruins e disse: 
                - Se apanhar todas antes de duas horas poderá vir conosco. 
                A bondosa menina foi ao jardim e chamou seus amigos: 
                - Queridos pássaros, pombas, andorinhas, e todos os outros, por favor me ajudem; vamos separar as boas e por no prato as outras podem comer ou jogar fora. 
               Duas pombas brancas imediatamente apareceram na janela da cozinha; em seguida duas lindas andorinhas, e por fim uma grande quantidade de pássaros  voavam em volta da lareira. Não demorou muito e todos os grãos bons estavam no prato. Nem havia passado uma hora e a tarefa já estava cumprida. 
               A boa menina foi toda contente levar o prato à madrasta imaginando que esta a deixaria ir à festa.
               - Nada disso, Gata borralheira, não tem vestido e nem sabe dançar; certamente os outros convidados ririam de nós. 
                Mas vendo que a menina não parava de chorar, resolveu dar-lhe outra oportunidade. 
                - Se conseguir apanhar entre as cinzas dois pratos de lentilhas ao mesmo tempo eu a levarei à festa. 
                Pensando que ela jamais conseguiria, despejou dois pratos de lentilha nas cinzas e foi embora.
                A menina imediatamente correu até o jardim e chamou novamente seus amigos pássaros.
                Como da primeira vez entraram logo pela janela da cozinha duas pombas, duas andorinhas e uma grande quantidade de pássaros que esvoaçavam pela cozinha em volta da lareira. 
               Passado pouco mais de meia hora a tarefa já estava cumprida e as aves voaram para os céus. 
               Toda contente, a menina foi ter com a madrasta imaginando que agora ela cumpriria sua promessa, mas a madrasta lhe disse:
                - É inútil tentar, não pode vir conosco; iria nos envergonhar pois não sabes dançar e, além disso, nem tem uma roupa condizente com a pompa da festa que o rei irá dar. 
                Deu-lhe as costas e pôs-se a caminho do castelo com as duas filhas orgulhosas ricamente vestidas.
                Finalmente a Gata borralheira ficou sozinha em casa e então resolveu ir ao túmulo de sua mãe; sentou-se em baixo da roseira e começou a falar com o coração cheio de amor:
"Querida roseirinha 
Um vestido me vais dar
Que seja de ouro e prata
E lindo como o luar"
                Imediatamente um passarinho branco lhe trouxe um vestido de ouro e um par de sapatinhos bordados com prata. Em seguida ela vestiu-se, calçou os sapatinhos e foi para a festa. 
                  Nem a madrasta e nem a irmãs a conheceram. Estava deslumbrante e elas julgaram que seria alguma princesa estrangeira. Acharam-na muito linda com aquele vestido de ouro e maravilhosos sapatos; jamais poderiam imaginar que ela fosse a Gata borralheira que haviam deixado junto à lareira. 
                  Não demorou muito e o filho do rei veio ao seu encontro; pegou-a pela mão e começou a dançar com ela não deixando que mais ninguém a convidasse para ser seu par e quando outro rapaz se aproximava ele logo dizia: 
                  - Desculpe amigo, mas ela é meu par.
                  Dançaram até ao amanhecer e então a Gata borralheira lhe disse que deveria voltar para casa, mas o príncipe lhe disse: 
                  - Vou com você; preciso conhecê-la melhor. Mas ela o despistou e conseguiu fugir.
O príncipe foi então falar com seu pai, o poderoso rei, dizendo-lhe: 
                  - Meu bondoso pai, a donzela que me fascinou fugiu para o bosque e preciso encontrá-la. O rei mandou vários guardas do palácio para procurá-la, mas não conseguiram nem sinal da bela jovem que encantara o príncipe. 
                  Quando a malvada madrasta e suas filhas chegaram em casa tudo parecia normal. A Gata borralheira estava junto à lareira com um vestido velho e todo sujo de cinzas. A Gata borralheira tinha entrado rapidamente; estava muito cansada, pois havia corrido um longo trecho de chão pelo bosque e, ao passar pelo túmulo de sua mãe, trocara de roupa às pressas. 
                  No dia seguinte a festa continuou; seu pai, sua madrasta e a duas trapaceiras puseram-se a caminho do palácio para não chegarem atrasadas. A Gata borralheira correu para junto do túmulo de sua mãe, sentou-se em baixo da grande roseira e disse: 
"Querida roseirinha
Um vestido me vais dar
Que seja de ouro e prata
E tão lindo como o luar."
                 Imediatamente um pássaro desceu do céu e lhe deu um vestido mais lindo que o anterior e ricos sapatinhos  mais brilhantes que a luz do sol. Quando chegou à festa todos ficaram encantados com sua extraordinária beleza. 
                 O príncipe já estava aguardando sua chegada e logo veio ao seu encontro; tomou-a pela mão e juntos dançaram a noite toda. Quando alguém ousava convidá-la ele imediatamente dizia: 
                 - Desculpe amigo, mas ela é meu par. 
                 Ao amanhecer, a Gata borralheira quis retirar-se, mas o príncipe estava pronto para segui-la e descobrir onde morava. Ela fingiu que estava tudo bem e foi esconder-se no jardim onde havia uma grande árvore repleta mangas. Subiu na árvore e escondeu-se entre seus ramos. O príncipe tentou segui-la, mas ela o despistou e foi embora. 
                  Quando a madrasta e suas filhas chegaram em casa encontraram a Gata borralheira sentada junto à lareira como na noite anterior. Tinha feito o mesmo caminho passando pelo túmulo de sua mãe e trocado as lindas roupas pelo velho vestido sujo de cinzas. 
                 No terceiro dia de festa a gata borralheira esperou que todos saíssem e foi novamente sentar-se em baixo da roseira e disse: 
"Querida roseirinha
Um vestido me vais dar
Que seja de ouro e prata
E tão lindo como o luar."
                Mais uma vez o pássaro chegou com um vestido muito mais lindo que os dois anteriores e um par de sapatinhos de ouro. 
                 Quando apareceu na festa todos suspiraram assombrados com tanta beleza. O príncipe já a esperava e, como nas noites anteriores, dançaram até o amanhecer. Sempre que algum jovem se aproximava para convidá-la ele dizia: 
                 - Desculpe amigo, mas ela é meu par.
                 Ao amanhecer a Gata borralheira quis retirar-se às escondidas como nas noites anteriores. Mas o príncipe havia mandado  espalhar uma poderosa cola na escada e o sapatinho da bela jovem ficou fixado no primeiro degrau.  Ele não perdeu tempo e apanhou logo aquele lindo e pequenino sapatinho de ouro. 
                 No dia seguinte foi ter com o pai e disse-lhe: 
                 - Meu bondoso pai; já decidi como escolher aquela que será minha esposa; vou anadar por aí até encontrar uma jovem cujos pés caibam perfeitamente neste sapatinho. 
                  E logo em seguida montou seu cavalo e saiu andando por todos os lugares com aquele sapatinho de ouro. 
                  A notícia logo se espalhou e todas as jovens que encontrou tentaram calçar o sapatinho. É claro que todas faziam o maior esforço, pois queriam casar com o príncipe, mas nenhuma conseguia perque tinham pés muito grandes. Finalmente chegou à casa da Gata borralheira. 
                  As duas enteadas ficaram muito felizes e esperançosas porque tinham pés pequenos. 
                  A mais velha levou o sapato para o quarto para calçá-lo, mas foi impossível porque o polegar não cabia. A mãe, sempre ardilosa, entregou uma faca para a filha e lhe disse:
                  - Corta fora o dedo. Não lhe fará falta, pois sendo uma princesa nunca andará a pé 
                  A ambiciosa jovem concordou com a mãe e cortou o dedo; em seguida, com muito esforço,  conseguiu calçar o sapatinho de ouro e foi juntar-se ao filho do rei. Os dois montaram a cavalo e como noivos saíram cavalgando em direção ao palácio. Mas no caminho tiveram que passar pelo túmulo da mãe da Gata borralheira; ali estavam duas pombas que começaram e recitar: 
"Não sigas, príncipe amante; 
olha e repara um instante
que o sapatinho que essa tem 
para o seu pé não convém;
a tua noiva verdadeira 
está em casa junto à lareira."
                  Então o príncipe foi examinar seus pés e viu que corria sangue; montou com ela em seu cavalo e juntos chegaram à casa de sua mãe. Ele explicou que a outra filha deveria experimentar o sapato, pois aquela não era a verdadeira dona do sapatinho. Esta pegou logo o sapatinho e entrou no quarto para calçá-lo. A parte da frente entrava bem, mas o calcanhar era muito largo e não cabia de jeito nenhum. A mãe assistia a tudo e, ardilosa como sempre, mandou que a filha cortasse um pedaço do calcanhar, pois sendo uma princesa, nunca mais andaria a pé. 
                 A jovem obedeceu a mãe e cortou o calcanhar; pôs o pé dentro do sapatinho e foi ter com o príncipe. Sentia muita dor, mas conseguia dissimular. Em seguida, junto com o jovem príncipe, rumaram em direção ao palácio. 
                 Ao passarem junto ao túmulo lá estavam as duas pombas que novamente começaram a recitar: 
"Não sigas, príncipe amante; 
olha e repara um instante
que o sapatinho que essa tem
para o seu pé não convém; 
a tua noiva verdadeira 
está em casa junto à lareira. 
                  O príncipe desceu do cavalo, examinou os pés da jovem e viu que corria sangue. Imediatamente voltou para trás e devolveu a fingida noiva dizendo: 
                  - Também não é esta que eu procuro; por acaso tem outra filha, perguntou ao pai.
                  - Não, respondeu-lhe. Mas com minha primeira esposa tive uma filha que não não lhe deve servir, tanto que a chamamos de Gata borralheira.  Ela não é com certeza a noiva que procura. 
                  Apesar dos argumentos do pai, o príncipe insistiu em vê-la, mas a madrasta foi logo dizendo: 
                  - Não, não; ela está toda suja e não pode apresentar-se diante de uma pessoa tão importante como vossa majestade. 
                  Mas o príncipe não desistiu até que resolveram trazer a Gata borralheira. Esta foi primeiro lavar o rosto e as mãos e depois apresentou-se diante do príncipe que lhe entregou o sapatinho de ouro para provar. Sentou-se num banco de madeira, tirou o pezinho do pesado tamanco e sem a menor dificuldade calçou aquele lindo sapato. Foi quando finalmente se levantou que o príncipe viu seu rosto e logo reconheceu sua formosa princesa com quem tinha dançado e disse-lhe: 

                  - Esta é a minha verdadeira noiva!
                  A madrasta e as duas irmãs ficaram assombradas e pálidas de raiva; Mas ele montou seu cavalo com a Gata borralheira e partiu com ela para o palácio, onde seu pai o esperava. 
                  Quando passaram defronte ao túmulo lá estavam as duas pombas brancas sob a roseira e iniciaram seu recital: 
"Segue, príncipe, adiante
sem parar nenhum instante;
 já encontraste o pesinho 
a que serve o sapatinho." 
                   Após dizerem isto, os duas pombas brancas voaram e pousaram uma em cada ombro da Gata borralheira.
                   Passados alguns dias aconteceu uma grande festa para a celebração das bodas do jovem casal.
                   As duas falsas irmãs tentaram se aproximar da Gata borralheira e assim participarem felizes da sua vida. Quando foram para a igreja a mais velha tomou o lado direito e a mais nova o esquerdo, mas as duas pombas brancas que estavam nos ombros da Gata borralheira bicaram-nas nos dois olhos deixando-as cegas e assim castigando-as severamente pelas suas impiedosas maldades.
                  O jovem casal, príncipe e princesa, viveram felizes para sempre. 
Nicéas Romeo Zanchett 
               
        

sábado, 25 de fevereiro de 2017

A AVIDEZ DA RIQUEZA CONDUZ AO INFORTÚNIO



Por Nicéas Romeo Zanchett 
Inspirado em clássicos universais com fim moral.
                  Em tempos muito remotos, houve um velho carpinteiro que morava à beira do mar; era muito mau, avarento e cobiçoso. 
     Passou a maior parte da vida juntando dinheiro que sempre guardava numa parede falsa ao lado de sua cama. Estava constantemente preocupado que alguém pudesse roubá-lo e então resolveu esconder sua fortuna dentro de um tronco de árvore que sustentava o teto de seu quarto. Achou que assim haveria menor probabilidade de alguém descobrir seu segredo. 
                 Numa tarde de verão começou chover intensamente e o mar tornou-se revolto. Isso não o preocupava porque sua fortuna estava bem escondida. 
              Enquanto dormia o mar transbordou e inundou totalmente sua casa. O velho avarento teve de salvar sua vida e abandonou seu quarto correndo em busca de abrigo em local mais alto. 
            Boa parte de sua casa foi demolida pela força da água e o tronco que guardava sua fortuna flutuou por longo tempo até chegar a uma pequena cidade onde morava um senhor dono de um pequeno hotel. 
              Ao amanhecer de um novo dia, veio o sol. O hoteleiro levantou-se cedo e foi até a praia que ficava em frente ao seu estabelecimento. Logo viu aquele tronco boiando entre as espumas que a maré batia na areia. 
            Inicialmente pensou tratar-se de um simples pedaço de madeira que alguém jogara ao mar. Retirou-o com todo o cuidado e o guardou. Era um homem muito honesto e preferiu não fazer nenhum uso até ter certeza absoluta de que ninguém o procuraria. 
          O tempo passou, chegou a primavera que era época de maior ocupação de seu hotel. Precisava de mais lenha para cozinhar alimentos, pois acabara de chegar um grupo de peregrinos.
          Resolveu então fazer uso daquele tronco de madeira cortando-o em pedaços. Pegou o machado e começo a cortá-lo ao meio. Mas, ao dar a terceira machadada percebeu que tratava-se um um pau oco; percebeu também que dentro dele alguma coisa fazia um barulho estranho que mais parecia um chocalho. 
             Qual não foi sua surpresa ao partir o tronco ao meio quando moedas de ouro rolaram pelo terreno. Ficou muito contente, mas como homem honesto e bondoso, logo imaginou que aquele tesouro devia ter um dono e por isso resolveu guardá-lo até descobrir o legítimo proprietário.
             O ambicioso carpinteiro não teve mais descanso desde o momento em que o mar levou todo o tesouro que tão bem guardou por toda a vida.  Quase enlouquecido caminhava por tudo quanto é lugar à procura de alguma notícia. Já cansado percebeu que ali havia um hotel onde poderia descansar para depois continuar sua busca. 
            Como já estava sem esperança resolveu contar ao velho hoteleiro a sua verdadeira história. O dono da hospedaria logo percebeu que aquele dinheiro era dele, mas resolveu guardar segredo até conhecê-lo melhor. 
           Cansado e com fome o avarento carpinteiro pediu que lhe service  alguma coisa para comer. O hoteleiro, atendendo seu pedido, serviu-lhe três bolos. O primeiro recheou com terra; o segundo com ossos de animais e o terceiro com um pouco daquelas moedas de ouro. 
              - Meu caro amigo - disse o hoteleiro - vamos comer três bolos feitos com a melhor carne da casa. Escolhe o que desejares. O carpinteiro, que sempre queria levar vantagem, escolheu o bolo mais pesado e disse logo: 
              - Minha fome é grande e provavelmente vou ter que ficar com aquele apontando para o que estava recheado de ossos. O senhor que não precisa de muito pode ficar com o terceiro. 
           - Para mim está bem - disse-lhe o hoteleiro. Em seguida chamou alguns mendigos que sempre vinham pedir restos de comida e lhes presenteou com aquele bolo. O avarento carpinteiro disse-lhe: 
               - Se eu soubesse que o senhor não o queria teria ficado com ele para mim. 
               O hoteleiro então partiu o bolo dizendo: 
               - Aqui está uma pequena parte do seu tesouro, seu velho avarento. Percebo que Deus não quer que seja seu e por isso o fez escolher os outros dois bolos recheados com terra e ossos. Então distribuiu pedaços de bolo e as moedas de ouro entre os pobres; em seguida expulsou o velho avarento que saiu esbravejando pragas pelo caminho, cheio de raiva. 
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CONCLUSÃO FINAL
             O carpinteiro, aqui representado, é qualquer homem avarento;
             O tronco da árvore significa o coração humano cheio das riquezas desta vida;
             O hospedeiro é todo aquele que tem bondade e amor no coração para abrigar a todos;
             O bolo de terra é o mundo em que vivemos temporariamente; 
              O bolo de ossos representa os seres, bons ou maus,  que viveram e já morreram sem levar nada; 
              O bolo de ouro representa a bondade que exite em muitas pessoas.
Nicéas Romeo Zanchett 


APROVEITE E CONHEÇA


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

O PATINHO FEIO e A VIDA DE CHRISTIAN ANDERSEN

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Adaptação de Nicéas Romeo Zanchett 
A história real do autor de "O Patinho Feio"
                    Hans Christian Andersen nasceu em Odense, na Dinamarca, a 2 de abril de 1805. Seu pai era sapateiro de condição humilde, mas tinha grandiosos sonhos. Alistou-se como soldado para lutar ma guerra napoleônica e um ano mais tarde voltou doente, morrendo logo em seguida. A família ficou na miséria.
                    A mãe de Christian casou-se novamente e o abandonou, tendo ele de virar-se sozinho pela sobrevivência. 
                    Christian era muito sensível, arredio e tinha dificuldade de adaptar-se a qualquer ofício. Gostava de estudar, mas teve de abandonar seus estudos por falta de recursos. 
                    Aos 14 anos de idade Andersen era um rapazinho solitário, assustado com o mundo em que vivia e sem nenhuma ideia de que rumo deveria tomar. Era um verdadeiro "Patinho Feio". 
                   Nessa época, uma companhia teatral, que percorria o interior da Dinamarca, apresentou-se em Odense. Christian Andersen não perdeu um único espetáculo da temporada. Quando a companhia foi embora Andersen já tinha tomado a sua decisão: ia embora também. 
                  Com alguns trocados no bolso e uma carta de recomendação tomou o caminho de Copenhague. A capital dinamarquesa era bem diferente do seu mundo e de seus sonhos. Por diversas vezes tentou aproximação com o mundo teatral, mas não teve êxito. Os atores e empresários que procurou não simpatizavam com sua aparência tímida e desajeitada. O próprio diretor do Teatro Geral disse-lhe que não havia oportunidade para um ator alto, magro e inexperiente como ele. 
                  Em vão, tentou os estudos de balé, mas como bailarino revelou-se uma total negação. Sua lista de tentativas, fracassos e decepções era interminável, mas Andersen não deixou que abatessem seu ânimo. 
                  Sentia-se cada vez mais atraído pelo teatro e insistia em escrever peças. Quando tudo parecia perdido, duas de suas peças chegaram às mãos de Jonas Collin, que era conselheiro do Estado. Finalmente alguém demonstrou interesse e lhe deu uma bolsa de estudos. 
                  Os próximos seis anos seguinte, que foram os mais estáveis de sua vida, passou como estudante na escola de Slagelse. Mesmo ali sentia-se constrangido entre os colegas que eram bem mais jovens que ele. 
                 Apesar do seu  mal estar junto aos colegas, dedicava-se com muito empenho aos estudos. Ao deixar a escola já tinha 22 anos. 
                Mesmo com algum estudo a vida continuava difícil. A crise financeira se aprofundava, mas ele não desistia. Voltou toda a sua energia para a literatura escrevendo algumas histórias infantis, baseadas no folclore dinamarquês. Pela primeira vez em sua vida surgia uma luz no fim do túnel: seus contos fizeram sucesso. 
                Foi neste contesto de adversidade extrema que ele parodiou sua própria vida escrevendo "O Patinho Feio". 
ADAPTAÇÃO DA HISTÓRIA ORIGINAL

               " Um vento frio e impiedoso soprava por toda a parte, derrubando as folhas das arvores  e tangendo as nuvens escuras, carregadas de neve e granizo. Chegava o outono. Tempo cruel para um patinho desprotegido. 
               Certo dia passou pelo céu um bando de grandes aves de pescoço longo, gracioso e plumagem muito branca. Voavam tão alto que dava vertigem de olhá-las. Eram cisnes que rumavam para o sul, em busca de terras mais quentes, deixando para trás a melancolia do inverno que se aproximava. 
              O patinho rejeitado não sabia que aves eram e nem para onde iam. Mas nunca vira nada tão lindo e sentiu por elas uma admiração sem limites. à noite, sonhou fazer parte do bando e ser igual àquelas criaturas fortes e tranquilas.

               O inverno veio rigoroso e demorou a passar. O patinho sofreu terrivelmente. Abrigado entre os juncos de uma lagoa. Durante longos meses ele aguardou o retorno do sol. Por fim, um dia a cotovia cantou e o sol se mostrou por entre as nuvens. Era a primavera chegando. 
               Aliviado, o patinho bateu as asas e notou que elas se moviam com energia e o transportaram facilmente sobre o juncal. Mas a alegria da descoberta terminou de repente, quando surgiram do juncal três formosos cisnes, com sua majestosa plumagem eriçada. A beleza daquelas figuras fez voltar a melancolia do enjeitado. Tinha vontade de juntar-se ao bando, mas não conseguia controlar o medo. Achava que sua feiura os ofenderia. Entretanto, acabou se decidindo; preferia morrer atacado por eles do que viver passando fome durante o inverno, maltratado pelos outros patos, bicado pelas galinha e enxotado pela moça que cuidava do galinheiro.
              Reunindo toda a sua coragem, voou até a água e nadou em direção aos três desconhecidos. Assim que o viram os cisnes vieram ao seu encontro batendo as asas. Resignado à morte, ele esperou de cabeça baixa. Então viu refletida na água a sua própria imagem. Quase não acreditou na visão; não era mais um bicho mirrado, feio e sem graça. Tornara-se grande e muito bonito. Deixara de ser um patinho e tornara-se um belo cisne.  
                 Embora adulto, Andersen encarava o mundo pelo mesmo ângulo que as crianças, e justamente por isso se exprimia numa linguagem ao mesmo tempo atraente e acessível ao espírito infantil. A riqueza de sua imaginação conseguia dar aspectos surpreendente às coisas mais corriqueiras e permitia-lhe criar enredos encantadores a partir de um botão, uma colher ou um soldadinho de chumbo.  
                 Seus contos se divulgaram, dando-lhe finalmente a fama que ela procurara em vão durante tanto tempo. 
                 Tendo começado do nada, Christian Andersen transformara-se uma personalidade aclamada em toda a Europa. Seus contos percorriam o mundo. Quando regressou ao seu país, vinha carregado de glória e sua chegada foi festejada pela Dinamarca inteira. 
                 Só após toda uma vida de luta contra a solidão, o frio e a fome, Andersen se viu cercado de amigos. E foi entre eles que morreu em 1875, quando tinha setenta anos de idade. 
                 A vida de Christian Andersen é um exemplo de perseverança e dedicação a uma causa de amor à arte e a literatura. Ele nos mostrou que para sermos entendidos precisamos falar a linguagem dos nossos ouvintes. 
                Pense nisto, nunca desista e deixe que o tempo mostre ao mundo o cisne que existe em você. 
Nicéas Romeo Zanchett 
LEIA TAMBÉM > AS FÁBULAS DE ESOPO

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

AS VIAGENS DE GULlIVER - LEIS ABSURDAS E BRIGAS INÚTEIS

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Adaptação : Nicéas Romeo Zanchett
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                  Tudo começa com a viagem do Capitão Gulliver que acabou em naufrágio. Logo apos ele foi arrastado para uma ilha chamada Lilliput, cujos habitantes eram extremamente pequenos e estavam constantemente em guerra por futilidades. 
                 Foi baseada nessas futilidades dos lilliputianos que o autor, Jonathan Swift demonstrou a realidade inglesa e francesa da época. 
                 Com o naufrágio, o Capitão Gulliver, capturado pelos lilliputianos, foi obrigado a fazer trabalhos forçados para seus minúsculos, mas ferozes carcereiros. O que não o impedia de manter conversações amenas com o rei daquele povo pequenino e obstinado. 
                 Depois de alguns trabalhos foi obrigado a se engajar na luta armada da guerra que acontecia entre os dois povos lilliputianos, governados por pequenos reis que se trucidavam a vinte séculos. Apesar de pequeninos no tamanho, os guerreiros de cada exército eram cruéis, matavam a sangue frio, não respeitavam nenhuma daquelas leis que, mesmo nas piores contendas, presidiam os fatos bélicos. 
                 Uma tarde, enquanto descansava do árduo trabalho que teve para empurrar toda a esquadra, Gulliver deitou-se num canto para dormir. Não conseguiu adormecer pois tinha à sua frente centenas de anõezinhos guerreiros se matando, velhos, crianças e mulheres estripados, uma imagem torturante. Então Gulliver foi pedir ao rei que parassem com aquela besteira. "-Não podemos parar," - disse o rei -"a nossa guerra é secular e só poderá ter fim quando um povo destruir o outro.". Então Gulliver quis saber do rei quais as razões daquela guerra que durava tantos séculos. O rei explicou: -"O meu povo, todas as manhãs, come ovos cozidos e os quebra pela parte de cima. O outro povo também come ovos cozidos todos os dias, mas quebra pela parte de baixo. Ora, isso é um insulto, um crime! A vinte séculos que lutamos para castigar este agravo nefando!"
                  Diante  da justa explicação, Gulliver teve de admitir que havia um motivo, que embora fosse banal para ele, era importante para homens daquele tamanho. Ja ia se retirando da presença do rei  quando lhe veio uma nova pergunta à cabeça: - Majestade, se o problema é apenas quebrar os ovos pela parte de baixo ou de cima, porque não fazem uma lei regulamentando definitivamente o assunto? - "Mas a lei existe e está em vigor à séculos! Faz parte da nossa Constituição! É justamente porque nosso inimigo não respeita a Constituição que vivemos em guerra!". 
                 - E o que diz a lei? - perguntou Gulliver. 
                 Dando ênfase a cada silaba, o rei citou o trecho do Dispositivo Constitucional número 1 que vigorava e era desrespeitado à vinte séculos. - "Os o-vos-de-vem ser que-bra-dos pe-lo la-do certo! Essa é a lei, o Dispositivo maior de nossa Constituição. Todas as manhãs os ovos devem ser quebrados pelo lado certo e não pelo errado. Há alguma dúvida sobre a necessidade e justiça de nossa guerra?"
                 Para aqueles anõezinhos Gulliver não passava de um desmiolado gigante, incapaz de entender o que é vergonha, moral, ética e compostura. 
MORAL DA HISTÓRIA
            As mesmas coisas podem parecer sem importância para alguns, mas é importante para outros; depende do ponto de vista de cada um. Por essa razão é importante saber ouvir e respeitar as opiniões dos seus semelhantes. 
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NOTA FINAL: Em nome de movimentos religiosos, ideológicos e democráticos, muitas leis absurdas são criadas; algumas respeitadas, mas inúteis e até incentivadoras de violência entre os povos. O pensamento de duas pessoas já é um universo de diferenças. Imaginem quando se cria leis para diferenciar seres da raça humana. Não é é a cor, a crença religiosa ou a escala social que deve servir de parâmetro para classificar os seres humanos. 
               As divergências políticas ou religiosas são democráticas e não devem gerar ódio. Mas muitos políticos populistas e fanáticos, em seus discursos inflamados para angariar apoio, votos e poder, jogam pobres contra ricos, crentes contra crentes e negros contra brancos. Isso é lamentável. 
               O artigo quinto da Constituição brasileira diz que todos somos iguais perante a lei; será que somos? - Pense nisso! 
Nicéas Romeo Zanchett