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quarta-feira, 31 de julho de 2013

O CÃOZINHO QUE ENFRENTOU O LOBO - Nicéas Romeo Zanchett

O CÃOZINHO QUE ENFRENTOU O LOBO 
Nicéas Romeo Zanchett 

                Havia um  lenhador que morava com sua linda esposa Lídia e seus dois filhos, João e Márcia, num bosque da Normandia. Sua esposa era muito dedicada e cuidava bem dos filhinhos. 
                Todos os dias, ao amanhecer, o lenhador saía para o interior do bosque à procura de lenha para vender na cidade. 
                 O bosque onde viviam era fechado e nele havia muitos animais perigosos. Por esse motivo, a mãe nunca deixava que seus filhos saíssem de perto dos seus olhos. O filho era moreno, de cabelos castanhos, tinha apenas oito anos e era muito inteligente; a filha era clara e com cabelos loiros como os da sua mãe, tinha apenas 10 anos e já era muito linda e esperta. 
                 Numa certa manhã, quando o pai saia para o trabalho, os dois pequenos insistiram tanto para acompanha-lo que, mesmo contrariada e preocupada, sua mãe acabou consentido. No seu coração havia um pressentimento que não lhe agradava, mas confiou que os anjos da guarda cuidariam de seus filhinhos. 
                 - Está bem! disse a mãe, mas levem o nosso cãonzinho totó com vocês; assim estarão mais seguros. 
                  - Mais seguros como? disse o pai. Totó é um cãozinho que só serve para comer e dormir; se pelo menos fosse um animal grande, poderia defender nossos filhos. 
                 Depois de prepararem um bom lanche, lá se foram bosque a dentro, sempre acompanhados de seu cãozinho de estimação chamado totó. O pai não tardou a se embrenhar na mata fechada, onde sempre tirava o sustento da família. Os dois filhos ficaram para trás, num campo aberto,  em companhia do cãozinho. 
                 O tempo passou sem que percebessem e, mesmo contrariando as orientações que receberam da mãe  para que não se afastassem muito,  os dois resolveram ir ao encontro seu pai. 
                 Foram caminhando por uma antiga trilha que o experiente lenhador costumava usar. Seu cãozinho lhes acompanhava de perto, sempre atento ao menor barulho. E lá se iam os três, sem a menor preocupação. 
                  Mas, de repente, ouviram um terrível uivo de algum animal da selva. Parecia o uivo de um cão muito grande. O cãozinho totó logo levantou as orelhinhas e ficou quietinho escutando; parecia estar tentando descobrir de onde vinha aquele assustador ruído. 

                 As duas crianças sentiram muito medo, mas sabiam que seu pai deveria estar por perto e, certamente, também estaria ouvindo o ruído daquele apavorante animal. Pensaram em voltar correndo para casa. No entanto, seu cãozinho totó saiu em disparada, rumo ao interior do bosque. Os dois temeram pela vida do pequeno animal, que, por certo, nem sabia o que estava fazendo e nem o que iria enfrentar. 
                 Resolveram que o melhor seria seguir o animalzinho para, e traze-lo de volta para casa, como estavam pensando fazer. Afinal, era a primeira vez que os três saíam para tão longe e o cãozinho, que lhes era muito querido, poderia correr algum risco e nem mais voltar. 
                 Mas eles não conseguiam acompanhar o totó, que corria muito rápido, pulando entre as plantas da floresta. Mesmo assim foram seguindo e, de repente, à sua frente estava um terrível lobo que os queria devorar. O animal era muito grande, e tinha dentes pontudos e perigosos; capazes de rasgar alguém em pedaços. O lobo, começou a rosnar de forma ameaçadora, e foi aproximando-se cada vez mais. Contudo, o que parecia impossível aconteceu; totó partiu em direção ao lobo para enfrentá-lo e defender seus donos.
                   Totó era uma cãozinho realmente muito pequeno, principalmente quando comparado ao tamanho de um lobo. Mas ele não se intimidou e aproximou-se da perigosa fera; parecia disposto a dar vida em defesa das crianças que amava. Apesar de pequeno, tinha uma vantagem, pois era muito rápido nos seus movimentos. A luta começou e o lobo tentava a todo o momento dar uma mordida fatal em totó, mas este sabia esquivar-se e sempre saia das investidas da fera. 

                  As duas crianças, diante daquela cena, estavam apavoradas e gritavam muito chamando pelo seu pai. 
                  Em pouco tempo, o lenhador, que ouvira os chamados dos filhos, chegou e foi logo enfrentar o perigoso animal. Trazia em sua mão uma machadinha que costumava carregar sempre consigo pela mata. Totó continuava lutando e o lobo agora tinha dois adversários a enfrentar. Não demorou muito para que o lenhador lhe acertasse uma machadada nas costas. A fera deu um terrível grito e caiu morta ali mesmo. 

                  Depois que o perigo passou, o pai das crianças foi tranquiliza-las, mas antes examinou os ferimentos que totó tinha sofrido durante a luta. O lenhador teve o cuidado de levar totó no colo até em casa, onde carinhosamente cuidou dos seus ferimentos. 
                  Todos da família amavam totó, mas nunca haviam imaginado que seria seu herói, e  o amor por ele ficou ainda maior. Era mesmo um maravilhoso e fiel companheiro que corajosamente combateu um lobo defendendo a vida de seus donos João e Márcia. Ninguém sabe o que teria acontecido, se totó não estivesse ali naquele momento.
                  A partir desse dia os dois filhos passaram a ficar sempre mais próximos da casa, onde sua mãe poderia lhes proteger de qualquer perigo. 
                  Totó, muito bem tratado, melhorou rapidamente dos ferimentos e nunca mais saiu de perto de seus protegidos. 
Nicéas Romeo Zanchett 
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segunda-feira, 29 de julho de 2013

A FILHA DO REI NO CASTELO ENCANTADO - Nicéas Romeo Zanchett


A FILHA DO REI NO CASTELO ENCANTADO 
Contos Antigos
Por 
Nicéas Romeo Zanchett 


                  Havia na Europa, um poderoso rei que tinha três filhas; todos eram lindas, mas a mais nova, chamada Psique, era de rara formosura. Quando ela passava pela rua todos a cobriam de  flores. 
                   Chegou o dia em que ela deveria casar-se. Suas duas irmãs, que não eram tão belas, já haviam casado, mas nenhum jovem se atrevia se aproximar dela.   O rei recebeu o aviso de uma fada que lhe disse:
                    - Deve  leva-la para uma montanha onde há um castelo encantado, e lá deixa-la sozinha para que nada de mal lhe aconteça, pois ela corre risco de morte por ser muito bela. 
                    Quando tomou conhecimento desse fato o rei não gostou, pois amava todas as suas filhas e queria tê-las sempre por perto.
                    Os moradores do reino também ficaram preocupados com o destino da princesa.
                    - Oh! se isso acontecer, a nossa querida Psique vai ser sacrificada. 
                    Todos diziam que ela era mais bela que a própria Vênus da Grécia. E olha que esta era considerada a deusa da beleza. 

                     Quando soube do que diziam, Vênus ficou irritadíssima. Ela tinha um filho chamado Cupido ; mandou-o vir à sua presença e deu-lhe uma ordem; deveria ir àquele reino e casar Psique com o homem mais feio da terra. Como todos sabem ninguém consegue resistir uma flechada de cupido; todos que passaram por isso se apaixonaram perdidamente pela pessoa que, naquele momento, estava em sua companhia. 
                      Mas o rei, temendo pela felicidade de sua filha, acabou concordando e Psique foi conduzida para a montanha, onde deveria ficar escondida. 
                      Quando já estava lá, soprou um vento mágico que a conduziu para um lindo palácio, onde ficou aos cuidados de bons espíritos invisíveis que tocavam melodias encantadoras e lhe serviam deliciosos manjares. 

                      À noite, quando Psique já estava dormindo, o Cupido foi até lá cumprir as ordens de sua mãe. Mas quando estava junto dela descuidou-se e acabou ferindo-se com a ponta de sua flecha; imediatamente apaixonou-se por Psique.  Então ela começou a ouvir palavras cheias de ternura e amor. Ficou tão encantada que concordou em ser a esposa daquele homem que as pronunciava ao seu ouvido. 
                      Ele lhe disse: 
                      - Psique, podes viver como mais te agradar neste palácio que construí para ti, mas tenho uma condição: que nunca queiras ver o meu rosto. 
                       Ela concordou e então casaram-se, mesmo sem seu pai saber. 
                        Na imaginação de Psique, seu esposo era muito feio, mas era tão terno e amável que apaixonou-se por ele, mesmo sem poder vê-lo. No entanto, só aparecia de noite. Assim, Psique, passava os dias sozinha e sentia muita solidão. 
                       Numa certa ocasião, um vento mágico levou até ela as suas duas irmãs. Elas tinham inveja de Psique e souberam que, por ordem de Vênus, o Cupido a tinha feito casar com um monstrengo. Queriam ver se era mesmo verdade.

                       Foram ter com sua irmã e lhe disseram: 
                        - Todos dizem que seu marido é um monstrengo;  é por isso que ele não quer que vejas seu rosto. 
                       No noite seguinte, Psique quis saber a verdade; acendeu uma lamparina e foi olhar o rosto do seu marido enquanto este dormia. Viu que era o próprio Cupido, o espírito alado e radiante de amor.  Ficou tão feliz que, ao levantar bem alto a lamparina, deixou cair uma gota de azeite quente em seu rosto, despertando-o imediatamente. 
                     - Que pena Psique! exclamou o jovem. Teremos de nos separar, pois agora minha mãe ficará sabendo que me apaixonei por ti e descumpri sua ordem de casá-la com um monstro. Adeus! 

                     E imediatamente abriu as asas e fugiu voando. 
                     Na manhã seguinte, muito triste, Psique tomou coragem e resolveu procurá-lo. 
                     Depois de muito vagar pelo mundo chegou finalmente ao palácio de Vênus, onde se propôs a ser uma criada. Mas Vênus já sabia de tudo e deu-lhe os trabalhos mais terríveis para fazer. Era uma forma de vingar-se e fazendo-a morrer de tanto trabalhar. 
                     No entanto, Psique era sempre muito boa com todos que a conheceram; vivia muito só e seus companheiros lhe tinham muita pena. Para amenizar sua dor, passaram a ajudá-la com suas difíceis tarefas. 
                     Vênus ficou sabendo de tudo e traçou um outro plano para vingar-se. 
                     - Toma este cofrinho de ouro, disse-lhe ela; leva-o à rainha dos mortos e peça-lhe que o encha com a poção mágica da beleza. 
                     Psique já sabia que ninguém conseguia voltar da terra dos mortos e no desespero subiu a uma torre de pedras, bem alta, para de lá atirar-se ao chão e morrer; mas as próprias pedras, tomadas de compaixão por ela, disseram-lhe: 
                     - Não fique desesperada. Acharás um caminho que a levará até a terra dos mortos pela  montanha azulada.  Vá até lá, mas deve levar duas moedas  de cobre na boca e duas tortas de mel  nas mãos. 

                     Psique assim o fez, cheia de esperança. Depois de muito caminhar chegou à terra dos mortos. Lá encontrou um barqueiro que a fez atravessar o rio da morte, e pelo trabalho recebeu uma das moedas de cobre. 
                      Em seguida, continuando sua caminhada, encontrou um cão horrível que tinha três cabeças; mas ela lhe deu uma torta de mel e este a deixou passar livremente. 
                      Chegou finalmente à rainha dos mortos. Explicou-lhe as razões que a tinham levado até ali. Esta imediatamente encheu o potinho de ouro com a tal poção e,  em pagamento, Pisque deu-lhe a outra moeda de cobre e a torta de mel que trouxera. A rainha dos mortos ficou muito feliz e comovida, mas não disse nada,  deixando que Psique voltasse a ter com Vênus. 
                      Com o cofrinho de ouro cheio de poção da beleza, por curiosidade, Psique abriu o estojo para ver  o que seria a tal poção. Era exatamente isso que Vênus esperava. O estojo estava cheio de vapores venenosos, os quais envolveram todo o rosto de Psique fazendo-a desmaiar; mas Cupido, que a tinha seguido, foi imediatamente em seu socorro; e dissipando todos os vapores do rosto da jovem, tomou-a nos braços e levantou voo com ela. Juntos voaram por muito tempo, até chegarem à Terra da Imortalidade, e ali viveram felizes para sempre. 

 Nicéas Romeo Zanchett 
                    


O VALENTE SOLDADO DE CHUMBO - Nicéas Romeo Zanchett

O VALENTE SOLDADO DE CHUMBO 
Adapatão de Contos Antigos 
Nicéas Romeo Zanchett 
                      Eram uma vez vinte e cinco soldados de chumbo, todos irmãos, por todos terem nascido da mesma fôrma.  De espingarda no ombro, olhar fixo, atitude marcial e ricos uniformes azuis e vermelhos. 
                       Viviam todos dentro de uma caixa preparada para presente.
                      A primeira coisa que ouviram no mundo, quando se levantou a tampa da caixa foi um grito dado por um menino, batendo palmas de alegria: 
                      - Olha, soldados de chumbo! 
                      Alguém tinha lhe dado de presente no dia de seu aniversário. Imediatamente, tirou-os da caixa e os colocou em formação militar sobre a mesa. Todos eles se pareciam uns com os outros, exceto um, que não tinha uma das pernas; a razão é simplesmente porque na hora em que foram fabricados faltou chumbo na última fornada. Apesar desse defeito, ficava em pé da mesma forma que os outros. 
                       Sobre a mesa em que foram enfileirados, como verdadeiros militares, havia muitos outros brinquedos; mas o mais bonito de todos era um lindíssimo castelo de papel. Pelas suas pequeninas janelas, podia se ver o interior dos salões. Em toda a sua volta havia uma bela floresta em miniatura, que se refletia poeticamente num pedaço de espelho que tinha a função de ser um lago, onde nadavam pequenos cisnes de cera. Tudo era muito encantador, mas não tanto quanto uma menina que estava à portas do castelo, e que também era de papel e estava vestida de caçadora; um vestido muito lindo, apertado e com cinto de fivela azul. A menina tinha os braços arqueados e uma perna levantada para o alto, porque era dançarina. O soldadinho de chumbo que tinha apenas uma perna, estava numa posição que não a podia ver direito e pensou que ela também tinha esse defeito. 
                     - Ali está a mulher que me convém, pensou ele, mas trata-se de uma grande fidalga; mora num palácio e eu numa simples caixa de papelão em companhia de vinte e quatro irmãos e, como a caixa é pequena,  não haveria um lugarzinho para ela. De qualquer forma, tenho que conhecê-la, quem sabe podemos ao menos ser amigos? 
                         E pensando assim, deitou-se atrás de uma caixa de tabaco, de onde podia ver melhor a sua encantadora dançarina, que sempre se mantinha num único pé e sem perder o equilíbrio. 
                        Quando a noite chegou, todos os soldadinhos foram deixados na caixa sobre a mesa e as pessoas foram dormir. Tão logo os brinquedos, que também estavam sobre a mesa,  perceberam isto, começaram a divertir-se; brincaram de esconde-esconde, de guerra e até fizeram um baile.
                        Os soldadinhos de chumbo também queriam brincar, mas estavam presos na caixa, onde só podiam mexer-se e remexer-se. Ficaram pensando como poderiam sair para participar das brincadeiras. De repente, o bailarino quebra-nozes começou a dar cabriolas e saltos mortais; o lápis traçou mil arabescos fantásticos numa lousa. Enfim, o barulho se tornou tão forte que o canário acabou acordando e pôs-se a cantar.  Os únicos que estavam quietos eram o soldadinho de chumbo e a dançarina, ela no bico do pé e ele numa perna só a espreitá-la. 
                       Deu meia noite, e zás! a tampa de uma caixa de tabaco levantou-se, e em vez de tabaco saiu um feiticeirinho preto. Era um brinquedo de surpresa. 
                       - Soldado de chumbo, disse o feiticeiro, não fique olhando a minha musa, trata de olhar para outro lugar.
                       Mas o soldadinho fez de conta que não ouviu. 
                       - AH, não me obedeces? então espera até amanhã e verás  o que te acontecerá, continuou o feiticeiro. 
                       No dia seguinte, quando as crianças se levantaram, puseram o soldadinho de chumbo na janela, mas, de repente, por causa do vento ou por alguma magia do feiticeiro,  caiu à rua de cabeça para baixo. Que tombo! Ficou com a perna  virada para o ar, o peso do corpo todo sobre a cabeça e com a baioneta da espingarda enterrada num vão entre duas lajes. 
                       As crianças chamaram a empregada para ir procurá-lo e resgatá-lo; mas, enquanto procurava, quase o esmagou sem, no entanto,  o encontrar. Se o soldadinho tivesse gritado, ela o teria encontrado, mas ele julgou que isso seria demonstrar medo e desonrar a farda. 
                       De repente começou chover muito, tornando-se num verdadeiro dilúvio. Quando a chuva acabou, eis que passavam por ali dois garotos, muito espertos.
                       - Ola aqui!, disse um deles, um soldado de chumbo  por aqui? vamos fazê-lo navegar.
                       Pegaram um pedaço de jornal velho e construiram um barquinho onde puseram o soldadinho de chumbo, e em seguida puseram-no na correnteza que se havia formado. Os dois garotos corriam ao lado, e com gritos de prazer: 


                       - Que ondas! Santo Deus! Que correnteza forte!
                       Tinha chovido tanto que havia formado um forte rio. O barco jogava de um lado para outro, de maneira horrorosa, mas o soldadinho de chumbo continuava firme, impassível, com os olhos fixos e a espingardinha no ombro. 
                        De repente o barquinho de papel foi levado para uma tubulação, onde a escuridão era tão grande como na caixa de soldados à noite. 
                        - Onde irei parar? pensou ele. Só pode ter sido coisa daquele feiticeiro malvado. 
                        E lá ia navegando sem destino. Mas, de repente, deu de cara com um enorme rato de água; era um habitante daquele tubo de esgoto. 

                        - Quero ver seu passaporte, disse-lhe o ratão. 
                        Mas o soldadinho não respondeu, e agarrou-se com mais força na sua espingarda. O barquinho continuava seu caminho, e o ratão passou a persegui-lo,  gritando e xingando a todos: 
                       - Alguém faça-o parar! não pagou a passagem e nem mostrou seu passaporte, façam-no parar!
                       Mas a corrente estava cada vez mais forte, o soldadinho já via a luz do dia, e, ao mesmo tempo, ouvia um barulho ensurdecedor, capaz de assustar o soldado mais valente do exército. É que havia, na extremidade do cano, um queda d'água, tão perigosa para ele como é uma cachoeira para nós. 
                        Aproximava-se dela cada vez mais, sem poder sustentar-se em alguma coisa como uma raiz, ou algo assim. De repente, o barquinho lançou-se sobre a queda d'água. O pobre soldadinho segurava-se o mais que podia; mas uma coisa ninguém pode negar, mesmo diante do maior perigo, ele sempre se mostrou corajoso. 

                         O barco, depois de ter andado rodando por muito tempo, acabou cheio de água; estava a ponto de naufragar; a água já chegava ao pescoço do soldadinho, e o barco afundava-se cada vez mais. Finalmente o papel desdobrou-se, e a água passou por cima da cabeça do nosso herói. Nesse momento supremo, pensou na sua admirada dançarina, e pareceu ouvir uma voz que dizia: 

                       - Soldado!, o perigo é enorme! a morte o espera!
                       O papel do barquinho rasgou-se e o soldadinho passou através dele. Nesse momento foi devorado por um grande peixe. 
                        Lá é que era escuro, ainda mais que dentro do cano.  E além disso, estava numa situação desesperadora. Mas, sempre corajoso, o soldadinho estendeu-se ao comprido, e sempre com a espingardinha no ombro.
                        O peixe dava saltos de meter medo; mexia, se remexia, até que enfim parou. De repente, apareceu a luz do dia, e alguém exclamou: 
                        - Olha! um soldadinho de chumbo!
                        O peixe tinha sido pescado, exposto na praça, vendido, levado para a cozinha, e a cozinheira o tinha aberto com uma enorme faca. Pegou no soldadinho de chumbo com os dois dedos, e levou-o para a sala, onde todos ficaram a admirá-lo, pois tinha viajado muito na barriga de um peixe. No entanto, o soldadinho não se sentia orgulhoso por isso. Depois que todos o examinaram, a empregada colocou-o em cima da mesa e, por incrível que pareça, era a mesa da sala de onde tinha caído para a rua.
                        Já recuperado de todo o susto e a aventura que tivera, olhou em sua volta e reconheceu tudo. Os brinquedos estavam em cima da mesa, também ali estavam o lindo palácio e a sua bela dançarina, que continuava com a perninha virada para cima. 
                        O soldadinho ficou tão comovido que, se pudesse, teria chorado lágrimas de chumbo; mas isso não era decente para um militar honrado como ele. Olhou para ela e ela também olhou para ele, mas não se disseram nada. Ela já estava feliz e imaginando muitas coisas. 
                        Mas, de repente, um dos garotos pegou nele e, sem nenhum motivo, colocou-o deitado  no fogão; eram obra do feiticeiro da caixa de tabaco, pensou ele.
                        Lá estava o soldadinho de chumbo, iluminado por um terrível clarão e sentindo um calor enorme. A essa altura, todas suas cores já tinham desaparecido, sem que se pudesse dizer que era por suas viagens inesperadas ou por causa dos seus desgostos. Mas ele continuava a olhar para a dançarina, que também olhava para ele. Sentia-se derretendo, mas sempre corajoso, conservava a espingarda no ombro em atitude marcial. 
                       De repente abriu-se uma porta, por ela entrou um forte vento que arremessou a dançarina ao fogão para junto do soldadinho, e logo apareceu nomeio das labaredas. Naquele momento o soldadinho de chumbo já não era mais que uma simples massa  sem forma. 
                       No dia seguinte, quando a empregada foi limpar o fogão, encontrou um pequeno coração de chumbo e junto dele uma fivela que era do cinto azul da dançarina. 
                       E assim, depois de viverem tão próximos sem nunca terem trocado uma única palavra, morreram juntos e juntos voltaram para enfeitar a casa; desta vez foram colocados nos aposentos da empregada, que os tratava com todo o cuidado e carinho. 

Nicéas Romeo Zanchett 
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quinta-feira, 25 de julho de 2013

A CIGARRA QUE QUERIA TRABALHAR - Nicéas Romeo Zanchett


A CIGARRA QUE QUERIA TRABALHAR 
 Por Nicéas Romeo Zanchett 
                    Ela cresceu ouvindo dizer que sua mãe era preguiçosa porque passava os dias cantando, sem se preocupar com o futuro. Ao chegar a adolescência resolveu que sua vida seria diferente, pois, tal como a formiga, iria trabalhar. 
                     Foi até o formigueiro falar com a rainha das formigas para pedir orientação. Lá chegando foi muito bem recebida pela rainha que lhe perguntou por que tanta preocupação. Ela então explicou que queria arranjar um bom trabalho que lhe garantisse um futuro confortável. 
                      A rainha então lhe perguntou: 
                      - Mas você não sabe cantar? 
                      - Sei sim, respondeu-lhe a cigarra, dizem até que minha voz é muito linda. Mas tenho medo de, no futuro, não ter alimentos e um bom abrigo para as noites de frio. 
                     Disse-lhe então a rainha: 
                     - Antes de morrer, sua mãe alegrava nossas tardes de verão cantando sem parar. Como sabe, estamos sempre trabalhando. As canções de sua mãe eram tão lindas que conseguiam aliviar nosso cansaço. Depois que ela nos deixou naquele inverno, a floresta ficou muito triste. Precisamos que alguém a substitua. Como sua mãe, você também nasceu para cantar. Façamos o seguinte: venha cantar aqui perto do nosso formigueiro e nos lhe daremos abrigo e comida. Seu canto também é um trabalho tão digno quanto o nosso.   
                        E assim a cigarra, muito feliz e realizada, passou a cantar perto daquele formigueiro enquanto as formiguinhas faziam seu trabalho na agricultura. 
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Moral da história: Todo o trabalho é digno. O importante é fazer o que se gosta. Assim sendo, o trabalho se torna um grande prazer. 
Nicéas Romeo Zanchett 
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segunda-feira, 22 de julho de 2013

UM PASSARINHO NA GAIOLA - Nicéas Romeo Zanchett

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UM PASSARINHO NA GAIOLA 
Por Nicéas Romeo Zanchett 
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              Alguns garotos saíram para caçar passarinhos. Depois de algumas tentativas fracassadas, finalmente conseguiram prender dois indefesos animaizinhos. 
              Os pequeninos pássaros, em vão, tentavam fugir; se debatiam muito e até se feriram. Junto deles os dois meninos se sentiam vitoriosos e comentavam o sucesso de sua incursão. 
              Já estavam voltando para casa quando se lhes aproximou um homem que, falando com dificuldade lhes perguntou: 
              - Querem vender-me esses passarinhos? 
              O mais esperto respondeu: 
              - Queremos!, mas depende de quanto vai nos pagar; e foi logo dando um bom preço para fechar o negócio. 
              O homem não hesitou. Meteu a mão no bolso e retirou a quantia que haviam pedido; pagou os meninos e apossou-se da gaiola.
               Os garotos já se preparavam para dividir a quantia, quando um gesto do estranho senhor lhes chamou a atenção. Depois de tomar cada uma das avezinhas na mão, acariciou-as e as deixou voar em liberdade. Os passarinhos, doidos de alegria, alçaram voo e desapareceram nos céus. 
               Os garotos, desgostosos, chegaram-se ao homem, e um deles disse: 
               - Se soubessemos que faria isso, não teríamos vendido! 
               O homem, num tom de tristeza, respondeu: 
               - Meu filho, dizes isto porque não sabes o que é uma prisão. Já estive preso injustamente na Itália, durante a guerra, e conheço a dor da separação dos meus ente-queridos. Sofri horrores. Se pudesses imaginar a minha aflição, longe dos meus, sem ar, sem luz, sem uma palavra amiga, não terias esse gesto injusto.   Foi por isso que  tive pena das avezinhas e comprei-as para libertá-las. O desejo de Deus é que todos sejamos livres. A liberdade é fundamental para que se possa ser feliz. 
                 E o homem continuou dizendo: Imaginem se estes passarinhos estivessem procurando alimento para seus filhotes; eles não iriam mais voltar para casa e seus filhotinhos morreriam de fome.
                Os meninos, comovidos, não puderam dizer nada, até que o mais velho, vencendo a emoção, tirou o dinheiro do bolso e, devolvendo ao homem disse: 
                - Nos queremos partilhar da liberdade das avezinhas; por favor tome de volta o dinheiro e nos perdoe. 
                  Muitas pessoas mantém pássaros presos em gaiolas dizendo que fazem isto porque os amam. Mas isto não é verdade. Tiram a liberdade deles pelo simples prazer e isto não é amor, mas egoísmo. Quem ama liberta. 
                   Também existem pessoas criminosas que se utilizam de animais indefesos, e até pássaros para promover as "rinhas". É um prazer tão infame que só pode ser praticado por pessoas espiritualmente muito doentes. Para os animais é um sofrimento terrível, que nem se pode imaginar.
                 
                Diariamente ouvimos notícias de policiais prendendo pessoas que fazem tráfico de animais. Mas, como as multas e a condenações são brandas, eles continuam com suas atividades criminosas. Infelizmente a nossa justiça não é perfeita e pouco tem feito para acabar com esse crime. Dependemos de leis e penalidades mais duras. 
                
                 Note como o pássaro da gaiola está triste. 
                 Se você souber de alguém que esteja praticando um crime contra qualquer animal, denuncie imediatamente. No Rio de janeiro o telefone é 22531177.
Nicéas Romeo Zanchett
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quinta-feira, 18 de julho de 2013

OS GNOMOS DA MINA DE OURO - Nicéas R.Zanchett


OS GNOMOS DA MINA DE OURO 
Por 
Nicéas Romeo Zanchett 
                      Na Suécia, ha muitos anos, havia um rei muito poderoso. Numa certa ocasião suas terras foram invadidas por um bando de selvagens bárbaros e ferozes; o rei temia por sua filha, a princesinha Charlotte. Ele deveria sair para combater os invasores do seu reino, mas, antes de partir, mandou cavar uma grande caverna no meio de uma floresta solitária. Para ali mandou levar grandes provisões de alimentos, muita água e também velas. Momentos antes de sua partida, sem que  ninguém soubesse, levaria a princesa  Charlotte para esse lugar, onde ficaria totalmente segura, enquanto estivesse fora do seu palácio. 
                       O jovem Conde Elias, que era namorado da princesinha, sempre acompanhava o rei em suas viagens e batalhas. Como era de confiança absoluta, foi a única pessoa a saber das providências que ele havia tomado para garantir a segurança da filha. Este, juntamente com o rei, levaram a princesinha até o esconderijo, fechando bem a entrada secreta. Deixaram-na ali trancada e prometeram voltar logo. 
                       Quando o dia amanhecer, uma das criadas foi até o quarto da princesinha para acordá-la, mas não a encontrou. Ficou apavorada com seu sumiço. O alarme foi dado, mas logo perceberam que o rei e o Conde Elias também haviam sumido. Não havia nada que se pudesse fazer, a não ser esperar e rezar. 
                      Muitos dias de luta se passaram nas florestas da Suécia. Mas, infelizmente, os selvagens mataram o rei, seus soldados e depois devastaram o pais. O Conde Elias foi ferido gravemente e levado por dois servos fiéis para a Noruega. Lá permaneceu em tratamento por muito tempo. 
                      A princesa Charlotte continuava no seu esconderijo. Estava muito triste e perdendo as esperanças de que seu namorado a viesse retirar dali. Então percebeu que seus alimentos e a água estavam acabando. Resolveu, então, procurar uma saída. Começou escavar a terra, mas, sem saber o rumo certo da saída, cavou em direção a outra caverna debaixo da terra.
                      Acendendo a última das velas, entrou nessa caverna e seguiu por um corredor até encontrar uma saída; por fim chegou a uma grande abertura subterrânea que era atravessada por um rio muito largo. Andando mais um pouco, avistou uma  grande fornalha e em volta dela, uma multidão de pequenos gnomos que viviam muito ocupados procurando ouro e aquela fornalha era onde o fundiam. 
                      Depois de alguns minutos ela foi descoberta pelos gnomos que gritavam: 
                     - Matem-na! Ela descobriu nossa mina de ouro e deve morrer! Vamos matá-la! gritavam muito zangados. 
                     - Não!, disse o rei deles; ela pode nos ser muito útil e, portanto, não devemos matá-la. Como sabem, nos perdemos a rã que nos avisava quando ia chover para sairmos logo e não sermos mortos na inundação da mina. Ela nos serve para esse trabalho. Olhem! 
                      E com uma varinha estranha, tocou na princesa, que logo se transformou numa rã. Depois pegaram um vaso de cristal transparente e encheram-no com água limpa e ali colocaram Charlotte. 
                      - Agora saberemos quando vai chover, disso o reizinho dos gnomos; quando é tempo bom Dona Rã sempre fica na superfície da água; quando chove, senta-se lá no fundo.
                      Foi assim que a princesinha se tornou um instrumento para saber se o clima seria chuvoso ou de sol. Acontece que justamente naquele momento estava chovendo muito lá fora, e sem saber porque  o fazia, Charlotte desceu até o fundo do vaso e ali agachou-se o mais que pode. 
                      No princípio os gnomos pensaram que ela estava fazendo aquilo porque se sentia triste e magoada por ter sido transformada em rã. Mas quando a chuva aumentou, as águas do rio subterrâneo, rapidamente, transbordaram e apagaram a fogueira,  onde eles estavam fundindo o seu ouro. A mina ficou inundada e todos abandonaram o local, o mais rápido que puderam. 
                      Nem um palmo de terra ficara enxuto e os gnomos fugiram pelo corredor em direção ao lugar onde o rei e o conde tinham deixado a princesinha escondida. Entretanto, o local era muito pequeno para caber todos eles; então fizeram uma abertura e saíram à procura de um lugar maior, onde todos pudessem esperar até a chuva passar e o rio baixar.

                     Felizmente não se esqueceram de Charlotte; para eles ela era muito importante, pois lhes alertaria para os riscos de uma chuva repentina. Puseram o vaso, com rã dentro,  em cima de uma padiola e dois gnomos a carregaram pela floresta escura.  Nesse momento o Conde Elias estava de volta, já completamente curado e cheio de saudade. 
                    Ao chegar na entrada da caverna, o Conde Elias com seu exército deram de cara com os gnomos que fugiam às pressas.  Na fuga deixaram cair o vaso com a rã. Charlotte, muito feliz por encontrar seu grande amor, saltou para fora do vaso de cristal e pulou sobre o Conde Elias. 

                    - Que coisa mais esquisita! disse Elias; pegou a rã com muito carinho e foi até a caverna e viu que estava vazia. Então, achando graça naquele pequeno animalzinho que parecia gostar dele, beijou-a, e ela imediatamente voltou a ser a linda princesinha Charlotte. 

                    Depois de derrotar os últimos selvagens que ainda resistiam, o Conde casou-se com Charlotte e passou a ser o novo rei da Suécia.  Com seu exército, entrou na mina dos gnomos, onde havia ouro suficiente para reconstruir as vilas e aldeias que tinha sido destruídas pelos selvagens.
                    No final, o sofrimento e as tristezas da princesinha Charlote foram recompensadas, pois trouxeram muita felicidade ao reino. Ali, com seu amado rei viveram felizes para sempre, protegendo e amando todas as rãs e animais que haviam na floresta. 
Nicéas Romeo Zanchett 
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segunda-feira, 15 de julho de 2013

O CAVALO VAIDOSO e O BURRINHO HUMILDE



O CAVALO VAIDOSO E BURRINHO DA ROÇA
Por Nicéas Romeo Zanchett 
                Já estava quase anoitecendo quando um burrinho voltava da roça com um carregamento de lenhas; o caminho era estreito e cheio de obstáculos, altos e baixos. Caminhava devagar, humildemente, com as orelhas  caídas e murchas. Como a carga era grande, ocupava quase toda a largura do caminho. Justamente quando estava na parte mais estreita deu de encontro com um belo cavalo que vinha em sentido contrário. Era realmente um belo animal que marchava orgulhosamente com a cabeça erguida, usando sobre o lombo uma bela manta de lã e um freio de ouro. 
                - Olá, coisa feia! gritou o cavalo, quando viu o burrinho.  Sai da estrada que quero passar! não vê quem sou eu? 
                O pobre burro, humildemente, nada respondeu. Não poderia voltar e nem liberar a estrada. Encostou-se o mais que pode no barranco, mas mesmo assim o cavalo não poderia passar com facilidade.

                 - Quero que libere a passagem, gritou o cavalo. E forçou o passo, avançando impetuosamente... Quiz cruzar a estreita passagem com tanta fúria que se raspou na lenha que o burrinho transportava. Rasgou a manta de lã e também o próprio couro, ficando muito ferido. 
                 Os donos do animal trataram de socorrê-lo curando as feridas. Mas, depois desse acidente, já não era mais aquele garboso cavalo, pois ficou feio e com um defeito bem visível. Para sua infelicidade foi vendido a um roceiro que o pôs para puxar carroça! 
                 A partir de então, sua vida tornou-se muito diferente. Com tanto trabalho, ficou tão magro e surrado que causava pena. Mesmo assim, feio e com defeito, tinha de puxar a caroça muitas horas por dia. 
                 Nas suas idas e vindas, de vez em quando, encontrava o burrico, mas, envergonhado, fingia que não o conhecia. 

                  Num certo dia, quando mais uma vez se encontraram, foi o burrico que o viu primeiro e lhe disse: 
                  - Por favor!... Vossa Senhoria pode passar primeiro! o caminho está livre para que puxes esta pesada carroça.  Eu lhe desejo que tenha ótimos dias como esse de hoje!... Tenha boa e longa vida nesse seu novo trabalho...
Nicéas Romeo Zanchett 
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MORAL DA HISTÓRIA
Nunca se sabe o dia de amanhã. 

A MOSCA VAIDOSA E A FORMIGA - Nicéas Romeo Zanchett


A MOSCA VAIDOSA E A FORMIGA 
Por Nicéas Romeo Zanchett 
                 A vaidade sempre foi um mal de quem, no fundo, está frustrado. 
                 Houve uma mosca muito vaidosa que se vangloriava de ter tudo sem precisar trabalhar. Ela olhava a formiguinha trabalhando o tempo todo sem ter atenção dos outros e nem cuidar da própria beleza. 
                  - Você, nem de longe, pode comparar-se a mim; nem voa, e eu vou rapidamente a qualquer lugar e sem o menor esforço; entro na casa que quiser, inclusive palácios e mansões reais; saboreio as melhores refeições, antes mesmo que os próprios donos o façam; pouso no colo das donzelas e até na cabeça de rainhas. Portanto, vivo sem trabalhar e aproveito o que há de melhor no mundo. E então, o que me diz, trabalhadeira imbecil? 
                  - É verdade, senhora Mosca; a senhora tem lá suas vantagens por poder voar e ter tempo para fazer oque quiser; mas eu jamais iria a algum lugar, como intrusa, sem ser convidada. Se a senhora frequenta palácios e mansões, sempre o faz furtivamente, porque se alguém a vê pousada em qualquer parte, trata logo de expulsá-la. Eu vejo que se refere desrespeitosamente  a reis e donzelas, e sem a menor delicadeza.  Isso que estou dizendo é a mais pura verdade, portanto, nem tente convencer-me a fazer do que a senhora faz. Eu vou continuar assim, trabalhando sempre, porque é assim que me sinto feliz.  Quando o inverno chegar estarei tranquila porque tenho minhas provisões guardadas. Já a senhora, sendo desleixada desse jeito, é lógico que não se dará bem, não terá o que comer; eu até já lhe vi comendo esterco. Depois, quando o frio aumentar, a senhora morrerá de fome e enregelada.  Eu, muito ao contrário, no inverno me recolho à minha casa, e ali fico, agasalhadinha e quente, sã e salva, com muitas coisas boas para comer. Que tem você a dizer agora? ... 
MORAL DA HISTÓRIA 
                      Contra fatos não há argumentos, e a mosca vaidosa retirou-se sem dizer mais nada. 
Nicéas Romeo Zanchett 


MARIO E LUÍZA VÃO AO MOINHO - Romeo Zanchett



MÁRIO DE LUÍZA VÃO AO MOINHO 
Por Nicéas Romeo Zanchett 


               Esta é uma história tão antiga que se perde na noite do tempo. 
               Havia uma família de sete irmãos que morava no sul do Brasil. Lá o inverno é muito rigoroso e intenso; e os filhos ajudam os pais nas tarefas do dia-a-dia. 
               
                Numa certa manhã, quando a geada cobria os campos e o sol ainda não havia acordado, dois irmãos tiveram a incumbência de ir ao moinho. Por determinação dos pais, eles deveriam levar, cada um, alguns quilos de milho para moer e retornar logo para casa. 
                A distância era bastante longa e era preciso ir bem agasalhado para não pegar um forte resfriado. O caminho era lindo e distraia as atenções dos irmãozinhos. 
                 Os dois tremiam de frio, mas como as sacolas não eram lá muito leves, e ambos caminhavam depressa, o exercício ajudava-os a aquecer o corpo.  Como ainda era bem cedo, havia muita geada no caminho e era preciso tomar cuidado para não escorregar. 
                  Depois de algum tempo chegaram ao moinho, e ali havia muitos passarinhos que moravam nas florestas próximas; pareciam procurar alguma coisa para comer. Como nada encontravam, piavam de frio e fome. 
                   Ao verem Luíza com o saco de milho, olharam-na com certa tristeza; como se tivessem pedindo ajuda. Luíza não se conteve de dó e resolveu ajudá-los. 
                   - Coitadinhos, Mário! Estou com vontade de jogar um pouco desse milho para eles. E sem dizer mais nada, atirou vários punhados de grãos, que logo foram recebidos com gratidão. 

                   - O que você está fazendo, Luíza? disse Mário. E como ficará a farinha de nossa família? Vai voltar para casa sem nada e mamãe não vai gostar do que você fez. 
                   Mas Luíza estava feliz e satisfeita vendo aqueles passarinhos famintos se fartando com seus grãos. Eles pulavam alegremente, pipilando e comendo as sementes com voracidade. 
                   Muito feliz por ter praticado o bem, Luíza entregou o restante de seus grãos ao moleiro, já conformada com a ideia de que levaria pouca farinha para casa. Mas nem se preocupava com o castigo que poderia receber pelo que fizera. 
                   Mas quando o moleiro voltou com os sacos de farinha para lhes entregar, qual não foi a surpresa que tiveram; o saco de Luíza estava bem mais cheio que o de Mário. 
                   Vendo o espanto dos dois irmãos, o moleiro explicou: 
                    Não fiquem pensando que me enganei! Está tudo muito certo: o saquinho mais leve, mais vazio, é do Mário..., e continuou, não poderia deixar de premiar, com uma porção extra de farinha, esta boa menina que socorreu os passarinhos famintos. Pus no saquinho que ela levará, não um nem dois, mas dez  bons punhados a mais da minha farinha. Sabem o que aconteceu comigo ao ver a boa ação desta  menina? O bom Deus tocou meu coração e então decidi compensar o sacrifício de Luíza; e tem mais, a partir de hoje eu mesmo irei alimentar, durante todo o inverno, esses pobres passarinhos que aqui vem pedir comida. 
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Nicéas Romeo Zanchett 
Como São Francisco de Assis, que se compadecia e protegia os animais, também precisamos ter compaixão e ajudá-los. Eles são nossos irmãos menores que fazem a alegria de toda a natureza criada por Deus Universal. 
Estamos vivendo numa época em que os homens, por ganância, destroem todas as florestas que encontram; elas são a morada dos animais e precisam ser protegidas.
Nicéas Romeo Zanchett 
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