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domingo, 25 de agosto de 2013

AS VIAGENS DE GULIVER- Adaptação: Nicéas Romeo Zanchett


AS VIAGENS DE GULIVER
Obra de Jonathan Swift
Resumo e adaptação: Nicéas Romeo Zanchett 
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Guliver foi um médico inglês que passava por sérias dificuldades financeiras e não tinha condições para sustentar a própria família. Em busca de fortuna, lançou-se às mais incríveis viagens, todas cheias de aventuras. 
GULIVER NA ILHA DE LILLIPUT
                 Lá pelo final do século XVII vivia na Inglaterra um médico chamado Guliver. Não tinha nenhuma credibilidade e, por isso, era pobre e não conseguia formar uma clientela. 
                 Algumas vezes embarcou para o Oriente em busca de fortuna, mas sempre regressou com com tristes recordações vividas durante as viagens. 
                 Embora já estivesse desiludido com suas viagens e tentativas de sobrevivência, a fome e dificuldades para sustentar sua família o forçaram a embarcar novamente. Era necessário tentar a sorte, ainda que fosse pela última vez. 
                 O capitão do "Impetuoso", navio de três mastros, que zarpava para os mares das Índias, ofereceu-lhe o posto de médico à bordo, e ele, que não tinha outra alternativa, aceitou. 
                 Que viagem desastrosa! Ao chegar aos mares índicos, perto da Tasmânia, uma furiosa ventania arrastou o barco para o sul e acabou despedaçando-se nuns rochedos. 
                 Guliver com alguns marinheiros conseguiram salvar-se num pequeno bote. Mas o mar estava muito violento e este também naufragou; o médico, porém, a muito custo, conseguiu salvar-se chegando a uma ilha desconhecida. 
                 Guliver era um bom nadador, mas a fúria do mar o haviam cansado muito. Vencido e fadigado deitou-se sobre a areia da praia e adormeceu profundamente.  
                  Ao alvorecer do dia seguinte, já bem descansado, acordou e resolveu levantar-se para procurar alguma coisa para comer. Mas, ao tentar o primeiro movimento percebeu que isso era impossível. Estava completamente amarrado no chão, como se o corpo e os longos cabelos tivessem criado raízes no solo. Além disso começou a ouvir um confuso rumor, como se fosse o zumbir de uma nuvem de insetos, e até sentiu que alguns lhe subiam ao peito, encaminhando-se pelo pescoço até suas face. 
                  Tudo estava muito estranho, parecendo um pesadelo. Cada vez mais assombrado, com dificuldade olhou para o lado, pois estava deitado de costas com a barriga para cima. Atônito, percebeu que junto á sua barba havia um homenzinho, cuja estatura não passaria de alguns centímetros, armado de arco e flechas. Mais de uns quarenta homenzinhos como aquele passeavam por cima de seu peito, observando-lhe a boca e os olhos como quem examina cavernas e poços estranhos. Sentia-se como um pequeno animal atacado por formigas. 
                  Diante daquilo, Guliver não pode conter uma grande exclamação: 
                  - Oh! fez ele, amirado. 
                  Assustaram-se os homenzinhos e saltaram de cima dele para o chão; tudo foi tão rápido que alguns deles, jogaram-se de qualquer maneira e até quebraram a perna. 
                  - Que gentinha estranha! dizia para si mesmo Guliver, enquanto, com grande esforço, rompia as cordas que lhe prendiam o braço esquerdo. Foi então que compreendeu oque estava acontecendo.  Em quanto dormia, aqueles homenzinhos o haviam amarrado por meio de muitas cordas finas como barbantes e presas ao chão em outras tantas estacas, formando uma espécie de rede para prendê-lo com segurança. 
                 Ao ver que Guliver estava movendo-se e agitando-se, os pequeninos pigmeus atiraram contra ele uma infinidade de flechas, do tamanho de alfinetes.  Como verificaram que o prisioneiro não se enfurecia nem desejava matá-los, ficaram tranquilos. Um deles subiu-lhe até a gravata e dali lhe dirigiu palavras em uma língua absolutamente incompreensível para ele. Guliver sentia-se como se estivesse em outro planeta e perguntava para si mesmo: 
                 - O que será que estão me dizendo? 
                 Guliver tinha naufragado perto do país de Liliput, ilha onde os homens, os animais, as árvores, eram de diminutas proporções.
                  Depois de haver livrado um lado da cabeça, o médico deu outro puxão violento e conseguiu virar-se de lado. Foi então que viu uma infinidade daqueles homenzinhos que formigavam à sua volta; ele não sentia medo, mas aquelas criaturinhas pareciam assombradas com o aparecimento de um gigante em sua terra. 
                   Logo depois viu chegar um outro personagem, um centímetro mais alto do que os companheiros. Vinha seguido de um pajem, que sustinha a cauda do seu longo manto. Ele então pensou: 
                   - Seria o rei daqueles bonequinhos tão interessantes? 
                   O personagem aproximou-se dele para falar-lhe. Mas Guliver não entendia uma só palavra. Como muitas horas já tinham se passado, estava com muita fome e fez diversos gestos, dando a entender que precisava comer alguma coisa. 
                  Para seu alívio, o chefe compreendeu perfeitamente. Passado algum tempo, veio um bando de homenzinhos trazendo cestas de alimentos, garrafas de vinho e uma grande quantidade de pequeninas frutas e até pão. 
                 Colocaram uma escada, subiram até o peito do médico e começaram a despejar alimentos naquela grande boca, que para eles até parecia um abismo; despejaram cestas e cestas de comida, carnes diversas, frutas, pães, doces, bolos, etc.; abriam também muitas garrafas de vinho e fizeram o mesmo. Os pães eram do tamanho de um chumbinho, os garrafões de vinho tinham o tamanho de um dedal de costureira. As carmes estavam muito bem temperadas e cozidas, mas eram de animais tão pequenos, que mais pareciam pequenos insetos. Colocam mais de dez pãezinhos de cada vez e junto, uma travessa bem cheia de carne. Os homenzinhos trabalhavam arduamente para alimentá-lo, como se fosse uma operação de guerra. 
                 Os liliputianos olhavam-no com enorme espanto e se perguntavam entre si: 
                 - De onde terá vindo essa criatura tão grande? 
                 O chefe, ou rei, tinha dado ordens para que o conduzissem ao interior do país, onde estava situada a capital de Lilliput. 
                 Para realizar o transporte, pôs-se em atividade uma grande quantidade de engenheiros do país, muito hábeis em mecânica. Construíram uma espécie de carro com vinte e duas rodas. Amarraram fortemente Guliver sobre o mesmo para movimentá-lo em direção à capital. O prisioneiro, que estava cheio de fome,  não percebeu, mas os espertos homenzinhos o haviam dopado com sonífero e, por isso, não tardou a adormecer. Meio sonolento, ainda pode ver que estava sendo puxado por mais de mil cavalos, tão pequenos que até pareciam camundongos. 
                 Depois de uma longa viagem chegaram finalmente às portas da capital liliputiana. Guliver começava acordar e viu que estava junto de um edifício, muito grande em comparação com os demais, poderia ser comparado ao tamanho de uma casa de cachorro. Tratava-se do templo, o maior templo dos liliputianos, e que fora destinado para seu alojamento. Para melhor poder ver a paisagem, Guliver pôs-se de pé. 
                   O espanto dos homenzinhos, ao verem-no andar foi enorme. Milhares deles não seria suficientes para lutar com ele, pois cada um, em pé, não atingia a altura do tornozelo do gigante. Pom um pequeno pontapé, Guliver poderia atirá-los para bem longe. 
                   O médico surpreendeu-se com a belíssima paisagem. Tudo estava tranquilo, belo e em ordem. Todas as coisas e animais eram proporcionais ao tamanho daqueles homenzinhos. Os bosques pareciam jardins em miniatura; os cavalos eram do tamanho de camundongos e a cidade parecia um presépio de Natal. 
                   O imperador foi imediatamente avisado sobre sua chegada e desceu para vê-lo. Depois de ter satisfeito a própria curiosidade deu ordens para que o alimentassem muito bem e lhe que lhe fosse ensinado a língua de seus país. O imperador de Lilliput era considerado delícia e terror do mundo; o mais sublime filho dos homens, a cujo menor gesto os grandes personagens do mundo caem de joelhos a seus pés.
                   Os lilliputianos, vendo que o prisioneiro era pacífico, foram adquirindo confiança nele. Subiam-lhe pelas pernas e braços, e brincavam de esconder-se nos seus cabelos. Por sua vez, o imperador também perdeu o medo, pois viu perfeitamente que o gigante não pretendia fazer-lhes nenhum mal. 
                  Num certo dia, o imperador, ordenou que seu exército desfilasse por baixo das pernas de Guliver, como se estivesse passando pelo Arco do Triunfo. 
                  Não havia mais duvidas, a corte e o povo simpatizaram-se com Guliver, a quem deram o nome de homem-montanha. E logo pediram ao rei que lhe desse plena liberdade para que pudesse passear a vontade pelo império todo. 
                  O imperador, certo de seu poderio sobre o gigante, consentiu em libertá-lo, mas mediante um pacto, nas seguintes condições: 
                  Primeira - O homem-montanha se comprometia a não sair do país sem expressa autorização do imperador de Lilliput. 
                  Segunda - Guliver seria obrigado a ajudar nos trabalhos imperiais quando fosse preciso erguer algum peso acima das forças dos pequeninos. 
                  Terceira - O homem-montanha teria o máximo cuidado de não pisar ou esmagar com os pés, durante seus passeios, nem pessoa, nem cavalos ou qualquer outro animal. 
                  Quarta - Seria aliado do imperador para combater e capturar a esquadra da ilha de Blefusco, país inimigo de Lilliput. 
                   Em  compensação, o imperador se comprometia alimentá-lo diariamente, com uma ração igual à de 1.728 soldados liliputianos. 
                Lilliput achava-se em guerra com os habitantes da ilha de Blefusco, havia mais de trinta e seis luas, por motivo nada fútil. 
                A causa da hostilidade, explicou o imperador, era a seguinte: 
                Como todos sabem, para se tomar um ovo quente deve-se abrir a casca pela parte mais arredondada, e não pela mais afilada. Os monarcas de |Lilliput, que em matéria de prudência, passavam a perna aos mais presunçosos, se haviam conformado sempre com esse costume. Mas, certo dia, um avô do imperador que, por felicidade reinava quando Guliver chegou, feriu-se um pouco quando foi quebrar , pelo lado costumeiro, a casca de um ovo. Ficou tão cismado que não quis mais ouvir falar daquele hábito de partir ovos quentes. Mandou, então, lavrar um decreto urgentíssimo, pelo qual determinava que dali em diante só se partissem cascas de ovos pela parte mais afilada. 
                Oh, céus! Esse decreto produziu uma verdadeira revolução entre os cidadãos liliputianos. Imediatamente formou-se um partido político denominado "Quebra-ovo", de fraca oposição ao decreto imperial. 
                 Houve passeatas, motins, arruaças, sangrentas repressões e até condenações à morte. Os que conseguiram fugir encontraram asilo e proteção em Blefusco. Disso resultou uma grande tensão diplomática, a que se seguiu a declaração de guerra. os Blefusquenses tinham construído um agrande esquadra e preparavam-se para invadir o país liliputiano.
                  Tudo isso foi explicado a Guliver, que se pôs à disposição do imperador para cooperar na luta. 
                  Quando fosse oportuno e necessário, ele destroçaria a frota inimiga. 
                  Antes de mais nada, Guliver quis examinar o canal existente entre o país de Lilliput e a ilha de Blefusco. Graças aos experientes marinheiros encarregados de realizar as sondagens, sou Guliver que, com a maré cheia, a profundidade era de dois metros. Soube também, por meio de hábeis espiões, que estavam prontos para zarpar, com a finalidade de invadir Lilliput, uns cinquenta galeões, com suas tripulações de guerra completas e numerosas tropas de desembarque. 
                  Então imaginou um estratagema. Esperou que a maré baixasse e foi para a beira do canal, provido de uns cinquenta cordõezinhos, tendo cada um gancho na ponta, feito uma barrinha de ferro a  que os liliputianos chamavam de viga, e que, afinal, eram como agulhas de costura. 
                   Já com tudo pronto para iniciar a nova aventura, Guliver tirou a roupa, ficando apenas de calção, atirou-se à água e foi nadando a grandes braçadas em direção dos navios de guerra inimigos. Quando chegou a uns cem metros de distância, já estando em lugar onde a profundidade do canal permitia, tomou pé no mar e ficou em pé diante dos pequenos navios. Parecia uma torre humana em frente à tranquila enseada onde estavam ancorados os navios. 
                  Um clamor desesperado se ergueu da frota e das praias. Os pequenos marinheiros e a tropa de desembarque, ao verem aquela montanha viva que avançava mar a dentro, agitando a água e formando ondas, puseram-se em fuga, rápidos como siris, abandonando os navios, para alcançar a praia a nado, dirigindo-se para o ponto onde o rei de Blefuso e o povo assistiam, aterrorizados, ao espantoso acontecimento. 
                    A única reação contra o avanço do gigante foi uma chuva de setas, que lhe caiu sobre o corpo. Mas eram como pequena agulhas, incapazes de ferir-lhe; além disso Guliver estava com os olhos protegidos por os óculos, que sempre levava em seu bolso. 
                    Avançou decidido, aproximando-se da esquadra ante a consternação geral dos blefusquenses. Chegando às pequenas naves enganchou-as em cordões que trouxera e em seguida tomou o rumo de volta, arrastando-as pelo canal. 
                    Guliver achava tudo aquilo uma loucura, mas ele queria mesmo é que os rivais voltassem à paz. 
                    Quando chegou de volta foi recebido com grande euforia e aplausos. É impossível descrever o delírio de alegria que se apoderou dos liliputianos quando viram a aproximação do gigante aliado, arrastando com uma só mão toda a esquadra inimiga. 
                     O imperador foi recebê-lo na praia e expressou sua grande satisfação, nomeando-o imediatamente Narda, isto é, "Grau de Comilão da Ordem Imperial da despensa e da Cozinha". E isso, sem dúvida, era muito importante para Guliver, que naquele momento já estava cheio de fome. 
                     Depois de tão extraordinária façanha, o médico tornou-se  um dos favoritos da corte. Tinham sido contratados mais trezentos cozinheiros, cada um dos quais tinha a obrigação de preparar-lhe dois pratos diariamente. Para confeccionar roupas destinadas ao "homem-montanha" foi recrutado um verdadeiro exército de alfaiates. 
                     A guerra havia acabado, mas, como todo mundo sabe, as cortes são verdadeiros ninhos de inveja, despeitos e intrigas. Guliver não tardou a ser vítima de dissimulados amigos, de fingidos servidores imperiais e falsos ajudantes. Não demorou muito para formar-se, no palácio, um verdadeiro partido contra ele, principalmente composto de homens do governo e militares. estes sentiam-se desprestigiados e humilhados com a fácil prisão de toda a frota de guerra inimiga e a total vitória de Guliver sobre Blefusco.
                     Não demorou muito para que dois ministros, de combinação com outros despeitados, levantassem uma grave acusação contra o gigante, denunciando-o como traidor e conivente com o rei inimigo, a quem desejava, afirmavam, fazer uma visita de cordialidade. Também o acusaram de irreverência contra a corte, por ter apagado subitamente um incêndio numa dependência do palácio, com um jorro líquido que não era água pura... Diziam também que ele tinha desobedecido a uma ordem do rei e outras coisas mais. 
                    Apresentada a acusação e convencido o imperador da culpabilidade do gigante, fez correr contra ele um processo que terminou com a seguinte sentença: o homem-montanha merecia a pena de morte. Mas, por uma especial clemencia de Sua majestade, o Imperador, que levava em consideração seus méritos passados, a pena lhe foi comutada e ele então foi condenado a perder a visão. 
                   É claro que nada daquilo assustava Guliver que pensou: 
                    - Que imbecis! exclamou Guliver, quando soube da sentença condenatória. 
                    Sem lhes dar tempo a que pusessem em execução a tal sentença, foi para a beira do mar, apoderou-se de uma daquelas canoas que os liliputianos chamavam de galeões, colocou nela suas roupas e se dirigiu a nado, arrastando a canoinha, para o outro lado do canal, até a ilha de Blefusco. 
                    Chegando lá, apesar dos ressentimentos pelo seu procedimento em relação á frota de guerra, foi magnificamente recebido. É que a corte, que já tomara conhecimento sobre sua poderosa força, desejava seus extraordinários serviços, queria t~e-lo como aliado para o que desse e viesse... Mas Guliver, já experiente quanto á ingratidão e intrigas próprias das cortes, não quis saber de nada com o rei da ilha e seus bajuladores cortesões. 
                    Aconteceu que, num certo dia, quando andava pela costa do mar, viu ali perto um bote de verdade, para homens com seu tamanho. Logo imaginou que ele tinha se desprendido de algum navio que naufragara. Sem pensar em mais dada, embarcou no bote e, pouco depois, foi recolhido por um navio cargueiro que voltava para o japão. Pode, então, finalmente, voltar para casa e retomar sua vida normal. 
                    Repatriado, custou muito a esquecer dos hábitos adquiridos em Lilliput, onde vivia sempre preocupado em não esmagar com os pés aqueles pequenos seres humanos. Por muitas vezes, caminhando pelas ruas, pensava que ainda estava em Lilliput e gritava aflito: 
                    - Afastem-se! Deixem-me passar! Cuidado, senão eu os esmago! por causa dessas atitudes, o povo pensava que ele era louco. Mas, aos poucos, sua vida voltou ao normal. 
Nicéas Romeo Zanchett 
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